Atualmente, existem diversas segmentações de turismo que visam utilizar o meio de forma consciente, dentre elas encontra-se o ecoturismo, que se desenvolve a partir de ações socioambientais, alicerçado em conceitos da sustentabilidade, incentivando a conservação do patrimônio natural e cultural, através da consciência ambientalista, por meio da interpretação do ambiente.
Com o passar dos anos, o ecoturismo vem se consolidando rapidamente, através de atividades recreativas atreladas à educação ambiental, sustentabilidade e contato com a natureza, além do novo perfil de turista que surge no século XX, mais consciente, que busca respostas e lazer em ambientes naturais, desvinculando-se dos grandes aglomerados e do turismo de massa (PIRES, 2002).
Assim sendo, vemos que um retorno à Natureza, a essa busca de ambientes e paisagens ainda não modificadas pelo homem, atividades ao ar livre, seja de esportes, contemplação ou entretenimento, pode voltar a ser uma tendência em tempos de pós-pandemia. Sabemos que um dos protocolos para se evitar o contágio do novo coronavírus é o distanciamento social, e também a não aglomeração, principalmente em ambientes fechados, com pouca ou até sem nenhuma ventilação. Ou seja, é possível avistar que inicialmente as viagens de turismo pendem para ambientes ao ar livre ou ao menos a céu aberto.
Também muito está sendo dito sobre viagens domésticas como uma opção de retomada para o setor de turismo e hotelaria, que foi fortemente atingido, viagens de um dia, as conhecidas excursões, onde o turista ou visitante se desloca ao atrativo durante o dia e volta no mesmo dia para casa, sem uso de hospedagem, apenas de recursos alimentícios e de locomoção.
Dito isso, muitos podem pensar que São Paulo não seria o destino ideal para se contemplar magníficas paisagens naturais, sabendo que a capital paulista se destaca pela grande urbanização, por altos e infinitos prédios que cobrem a cidade e arranham o céu, e que seu carro chefe no turismo é o de negócios e eventos. Mas o que poucos sabem é que essa imensa metrópole ainda abriga comunidades indígenas no extremo sul da Zona Sul, precisamente em Parelheiros, e que essa comunidade está inserida em uma região de rios e mata atlântica preservada por duas APAs (Área de Preservação Ambiental), Capivari-Monos e Bororé Colônia.
E é nessa área que está o primeiro Polo de Ecoturismo de São Paulo, que abrange os bairros: Parelheiros, Marsilac e Ilha do Bororé, é também nessa área preservada que se encontra o último rio limpo da cidade, o rio Capivari, área também conhecida como berço das águas, que abastecem 30% da água utilizada pela cidade e duas grandes barragens, a Billings e a Guarapiranga, onde também é muito desenvolvido o turismo náutico.
Esta grande área de preservação ambiental abrange cerca de ⅕ do território total do município e ainda abriga um pequeno pedaço do mais extenso parque do estado de São Paulo, a Unidade de Conservação de Proteção Integral Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Curucutu, com 315.390 hectares, abrangendo 39 municípios e muita flora e fauna.
Dentre os inúmeros atrativos naturais que o Polo possui temos os Parques Naturais Municipais: Bororé, Itaim, Varginha, Jaceguava e o Cratera de Colônia, este último está inserido em uma cratera feita por um meteoro há muito tempo atrás, hoje habitada por inúmeras famílias e culturas como a alemã. Opções de passeios é o que não falta: cachoeiras, trilhas, história, mirantes com paisagens belíssimas, muita Mata Atlântica, água para mergulho, aves para fotografar. Se a busca é o ecoturismo, tanto de aventura quanto de contemplação, o Polo possui algo surpreendente para esse visitante.
Falando de atrativos culturais e de espiritualidade, é no Polo que está o Solo Sagrado de Guarapiranga, construído às margens da Represa de mesmo nome, um lugar para meditar e entrar em contato com a natureza. O projeto do Solo Sagrado é o protótipo de um Paraíso e eles se esforçam muito em realizar esse projeto, a harmonia de flora com a arquitetura é cheia de detalhes e a paisagem do local é de impressionar.
O Templo Asé Ylê do Hozooane é uma instituição que luta pela valorização da cultura e religião afro-brasileira, ensinando o respeito aos Orixás, promovendo rituais e palestras, estimulando discussões e mantendo viva as tradições africanas nas apresentações culturais e culinárias.
O Templo Quan-Inn é um templo budista feito pelo governo chinês, em parceria com Taiwan, e possui realmente características marcantes da cultura oriental na arquitetura e nos costumes, que são de tirar o fôlego.
Estes são só alguns atrativos. Há também um borboletário, a agroecologia e o turismo rural, vivências e experiências únicas que podem ser de grande mudança na vida de quem experimenta realizar tais atividades, tudo dentro de uma metrópole, conhecida exatamente por ser multifacetada e plural. É como dizem: “um interior dentro da cidade”.
Isso tudo sem citar o recém criado Polo de Ecoturismo da Cantareira, localizado na Zona Norte e que iniciou suas atividades em janeiro deste ano, com objetivo de tornar a região mais visitada e conhecida pelos paulistanos, entre alguns atrativos do local, citamos o Parque Estadual Alberto Löfgren, onde está o Horto Florestal e Museu do Instituto Florestal. A região também foi inserida no projeto Investe Turismo, uma parceria da Embratur e do Ministério do Turismo, projeto esse que já atua no fomento ao turismo no Polo de Parelheiros e no Centro Histórico.
Também é importante citar que se tratando de ecoturismo, a observação de aves se destaca mundo afora, e no Brasil, ainda que um pouco incipiente comparado a outros países, já vem mostrando um crescimento desta atividade nos últimos anos, empresas e destinos se consolidando no setor são cada dia mais frequentes. Em São Paulo, há no site Wikiaves.com registros de 485 espécies de aves no município e é também nesta cidade que é realizada anualmente o evento “Avistar” que reúne pesquisadores, palestrantes e entusiastas do Brasil inteiro e do exterior, atraindo visitantes interessados neste segmento turístico, que também busca novos destinos.
Dessa maneira, com a reabertura gradual de ambientes públicos, é normal que as pessoas voltem a sair de casa para caminhar em um parque ou conhecer um atrativo natural próximo. Atividades de lazer e contemplação são uma opção para a recuperação do setor. Uma pesquisa feita pelo Hotel.com mostrou que metade dos brasileiros pretendem viajar depois da pandemia e 47% pretendem visitar atrativos nacionais. A pesquisa também mostrou que 53% planejam visitar parentes e 46% optam por destinos ao ar livre, como cachoeiras e praias, para evitar multidões.
Atividades culturais, turismo de natureza e paisagens maravilhosas é o que não falta para conhecer em São Paulo, e tudo isso ao ar livre com vistas panorâmicas e ar puro. John Muir, escritor escocês-americano, que teve papel importantíssimo na criação de Parques Nacionais nos Estados Unidos, disse uma vez: “Se aproxime do coração da Natureza”. Quanto mais a gente conhece, mais sabemos que a Natureza salva.
Escrito por: Augusto César Oliveira Azanha
Referências:
Brazil Turns to Online Travel after the Pandemic disponível em:
https://www.tourism-review.com/online-travel-after-the-pandemic-on-the-rise-news11648
REITER, Arpad Spalding et al. Ecoturismo e agroecologia no extremo sul de São Paulo. 2012.
MUIR, John. The Writings of John Muir: The Story of my boyhood and youth. Houghton Mifflin, 1917.
PIRES, Paulo dos Santos. Uma investigação conceitual. In: Dimensões do ecoturismo. Senac: São Paulo, 2002.