“O senso estético diz respeito a como nos sentimos em relação ao mundo, não diz respeito ao mundo, por isso se dá no domínio da liberdade e não da necessidade. Mas a elaboração da faculdade de sentir também interfere no domínio teórico da razão, quer dizer, em nossa inteligência argumentativa, filosófica e científica. Nossa capacidade estética é uma das três dimensões essenciais da razão pura, que para exercer o seu domínio, como razão teórica, prática ou estética, precisa da integração destas três faculdades: sensibilidade, imaginação, entendimento.” – Viviane Mosé
No trecho acima, a filósofa e psicanalista Viviane Mosé explora e aprofunda o conceito de senso estético que o filósofo, poeta, historiador e médico alemão, Schiller apresentou ao mundo no século XVIII. A beleza para Schiller, é sentida e entendida internamente e considera-se as vivências e experiências de mundo do indivíduo. A palavra e prática do turismo como conhecemos hoje, surgiu no século XIX, mais precisamente após a Segunda Guerra Mundial. Para o meu trabalho hoje e conceituação do turismo, a teoria de Schiller é a que melhor explica a intangibilidade do segmento.
Pode-se fazer longas explicações, palestras, descrições, vídeos e o que mais o modelo de negócios permitir, no final do dia, para o turismo afetar o sujeito que está na posição de consumidor, toda sua bagagem inconsciente irá influenciar sua experiência, muitas vezes sem que o saiba o porquê. Me recordo aqui da vez que participei do projeto do Vem Pro Triângulo SP em parceria com Secretaria Municipal de Turismo e a VMO Turismo: eu era uma das guias que conduzia os grupos pela história do edifício Matarazzo em São Paulo, sede da prefeitura. O edifício possui vários detalhes que chamam atenção desde a fachada, inclusive um estonteante jardim no último andar que é percebido de longe e desperta a curiosidade. Então, é esperado e bem trabalhado o encantamento dos visitantes nessas apresentações. Porém um dia específico, recebemos um grupo de uma subprefeitura de área mais afastada do centro e apenas de idosos. Muitos, estavam em sua primeira visita ao centro da cidade em anos, outros estavam em sua primeira excursão. Neste dia, eu fui surpreendida com a reação de um deles: era a primeira vez que um senhor que beirava os seus 70 anos, utilizava um elevador e de todas as descobertas envolvidas naquele passeio, percebi ali o marco que aquele ato (tão comum no meu dia dia e de tantos outros) representava para ele.
Este breve relato, ilustra o quanto a subjetividade envolvida na atividade do turismo impacta nos consumidores e o quão responsáveis aqueles que atuam na área são por experiências que transformam os sentimentos humanos e afetam a sua visão de mundo, mesmo que seja a um nível considerado pequeno. Pois, para se transformar algo no coletivo é sabedoria antiga dizer que precisamos antes, transformar o indivíduo. Fazê-lo de forma consciente de nossa capacidade de alcance, é o que busco desenvolver no meu trabalho atual. É preciso expandir sem esquecer do ponto de partida, neste caso, o humano; o indivíduo que busca uma atividade de lazer, relaxamento, esporte ou outra que seja, que lhe interaja com suas emoções prévias e o faça sentir-se diferente de quando primeiro buscou o serviço.
No início de junho deste ano, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres trouxe uma fala interessante para o setor ao explanar sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável: “Ao reunir as pessoas, o Turismo pode promover solidariedade e confiança – ingredientes cruciais para o avanço da cooperação global que é tão urgentemente necessária no momento. A Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas está fortemente comprometida com este trabalho. Encorajo todos os envolvidos no setor de Turismo a explorar como podemos nos recuperar melhor, inclusive por meio de ações climáticas e outros passos que promovem a sustentabilidade e constroem resiliência. Em nossa jornada em direção a um futuro melhor, devemos cumprir nossa promessa de não deixar ninguém para trás.” Ao analisar o discurso, entende-se a percepção do potencial turístico em trabalhar com as particularidades de cada aldeia, cidade, estado, cultura, atrativos e tudo o mais que o setor envolve. Faz-se necessário então, desenvolvermos nossos roteiros, pacotes ou o que valha, sem esquecer de considerar o quanto o símbolo (afinal, não entregamos a cidade ou a paisagem para que a pessoa leve para sua casa) que está sendo trabalhado, irá agir de maneira diferente em cada sujeito.
Sobre o processo de leitura de símbolos, Carl G. Jung diz: “A essência do símbolo consiste em apresentar uma situação que não é totalmente compreensível em si e só aponta intuitivamente para seu possível significado. (…) A compreensão do símbolo exige uma certa intuição que capta, aproximadamente, o sentido desse símbolo criado e o incorpora na consciência.” Assim, trago a importância da profundidade e entendimento que falar sobre uma estátua, um museu, um parque, ponte ou qualquer lugar com potencial turístico é para os profissionais de nosso setor: nossa fala, mesmo que de maneira leve, é para construir a partir da história real uma nova percepção de mundo em nossos espectadores. Turismo e educação não são excludentes, são envolventes de maneiras que precisamos aprender a cada dia a explorar mais e melhor. Educar e entreter pelo turismo, é um dos pilares da VMO que me comprometo em desenvolver junto a tantos profissionais de potencial e conhecimentos reveladores.
Escrito por: Natália Balancin