Artista plástico Lumumba Afroindígena produz obra de grandes proporções em homenagem às vítimas da pandemia no conjunto habitacional do projeto Cingapura, na Zona Sul

São Paulo tem se estabelecido, cada vez mais, como referência mundial da arte urbana. Este processo ganhou novos ares nos últimos anos com o reconhecimento de seu valor social e artístico perante à população e junto a instituições públicas e privadas, que passaram a inserir sua produção na agenda da metrópole. Nesse sentido, o projeto MAR360º, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC), em 2020, viabilizou a produção de 40 artistas plásticos por meio do Museu de Arte de Rua e da plataforma www.mar360.art.br, em contraposição à política do então prefeito João Dória, em 2017, que cobriu com tinta cinza famosos grafites da cidade. Escolhido para compor esse painel artístico, Lumumba Afroindígena tem chamado a atenção com suas obras em diversos espaços públicos, com destaque para a escultura do arquiteto negro Joaquim Pinto de Oliveira, mais conhecido como Tebas, instalada na Praça Clóvis Bevilácqua (região da Praça da Sé) desde o ano passado. Para o projeto, ele está trabalhando em uma obra de grande porte, viabilizada pelo MAR 360º, no conjunto habitacional do projeto Cingapura localizado na Av. Abraão de Morais (Zona Sul), onde faz uma homenagem às vítimas da Covid-19 que será entregue à comunidade em 22/7.

Para o trabalho, Lumumba se inspirou em um estudo realizado em 2020 aplicado em uma tela. A obra que faz parte da coleção “Retratos Afro-Indígenas”, traz uma mulher de origem mencionada no título da série. A figura, feita em modelo baseado em foto de RG, propõe uma reflexão sobre a ruptura da indivídua oriunda de povos indígenas para se adequar à sua existência ao sistema social vigente. A máscara criada para a personagem é retratada com formas de caramujos, um dos símbolos que remete à divindade do panteão iorubá, o orixá Oxalá, que simboliza paz e esperança, atributos necessários para o período no qual estamos atravessando e que autor descreve como determinante nos seus processos de autoconhecimento.

Os caminhos do MAR360º e do artista se cruzaram a partir da indicação de Ciro Schunemann, do ateliê Quimera. A produção geral do projeto é realizada pela Núcleo Coletivo das Artes, comandado por Rita Teles, que acompanha o artista desde 2018, e que recorda que todo mecanismo para tornar o projeto realidade passou por negociações com prédios e seus moradores, o que se revelou um grande aprendizado sociológico que englobou desde a recepção das pessoas quanto à homenagem até o poder de articulação das diferentes classes sociais. Este apontamento se junta à percepção do grafitti enquanto linguagem artística marginalizada, principalmente por pessoas de classes sociais mais elevadas. O próprio Lumumba, que produz seu primeiro trabalho em empena de prédio, recorda-se de situações em que a proposta artística foi imediatamente rejeitada, principalmente em regiões da zona sul mais próximas ao centro da cidade. Em contraposição, o prédio que abriga a obra obteve aval imediato da síndica, Patrícia, e de moradores, que logo se posicionaram a favor da instalação. A arte está em processo de finalização no centro de uma comunidade, com dimensões de 13 metros de altura e 11 metros de largura, em local que fornece belíssima visão do desenho para quem chega ao município pela Rodovia dos Imigrantes.

Com este novo trabalho Lumumba pretende homenagear não somente as vítimas das Covid-19, mas, também as populações periféricas que demonstraram, neste período, uma grande capacidade de acolhimento de seus semelhantes em situação de risco. Ele acrescenta que a arte, em suas mais diversas linguagens, deve estar disponível a todos, independentemente de localização e condição social, e que a arte de rua proporciona essa possibilidade. “O grafitti tem essa característica, de poder estar na galeria, no museu, em bairros de classe média-alta, mas também em locais onde as pessoas não têm acesso a estas estruturas formais”, afirma.

 

Sobre Lumumba Afroindígena 

LUMUMBA Afroindígena, descendente de congoleses Tetelas, da província de Kasai, um caso raro de terceira geração nascida no Brasil com o nome da bisavó escravizada, Tereza Lumumba, que conseguiu preservar seu nome natural e, bisneto de indígena da etnia Puri-Guarani, da serra do Caparaó.

Autodidata, iniciou sua trajetória em 2001 pintando orixás em juta, traduzindo os mitos iorubás, influenciado por Michelangelo e Boris Vallejo. Em 2009 começa a dedicar-se a trabalhos cenográficos: Parada Momentos Mágicos Disney World, Óperas Infantis para o Teatro Municipal de São Paulo, Beto Carrero World, Dreamworks, Oktoberfest, Casa do Porco Bar e toda a rede, Boteco da Diversidade – Sesc Pompéia, dentre outros.

Recém iniciado na linguagem da arte urbana (grafite), após o contato/aprofundamento na obra de Jean-Michel Basquiat e os últimos dois anos de sua trajetória sócio-política, o artista sentiu necessidade de “ir pra rua”, entender seu código singular, falar com as pessoas, conhecer outros artistas e trocar experiências que somente a rua proporciona.

Em 2020 assinou sua primeira escultura em Aço Inox… O “Monumento em homenagem a Joaquim Pinto de Oliveira, O TEBAS”, um importantíssimo símbolo de reparação histórica à população negra. A Obra foi entregue à Cidade de São Paulo em 20 de novembro de 2020.

Em 2021 retoma à inspiração em retratar orixás e, produz uma escultura em aço inox representando a divindade Ogum, que pode ser visitada nas dependências do restaurante Casa do Porco Bar.

 

MAR360º – Lumumba Afroindígena

Local: Esquina da Av. Abraão de Morais com Rua Prof. Roberto Mange, 80, Vila Santo Estefano, São Paulo

Mais informações:

Instagram: @lumumba_afroindigena e @nucleocoletivodasartes

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