Projeto Trem Selvagem reúne dois solos de Denise Dietrich e Bruna da Matta que entram em cartaz no Teatro de Contêiner

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Aquele Trem é dirigido por Erica Montanheiro e Selvageria: O Nascimento do Outro, por Maria Giulia Pinheiro. Ambos estreiam dia 18 de junho de 2022 

 

As experiências pessoais das atrizes Denise Dietrich e Bruna da Matta resultaram nos solos Aquele Trem, protagonizado pela primeira e dirigido por Erica Montanheiro, e Selvageria: O Nascimento do Outro, estrelado pela segunda e dirigido por Maria Giulia Pinheiro.

Os dois trabalhos podem ser conferidos no projeto Trem Selvagem, que estreia no dia 18 de junho no Teatro de Contêiner, com apresentações aos sábados, aos domingos e às segundas, às 19h e às 20h30, respectivamente.

Em cena, a partir de seus diferentes olhares e vivências, as atrizes-criadoras discutem vários temas relacionados ao sentimento de abandono, exaustão, desejo de liberdade e medo. Elas investigam questões como o que se espera de uma menina e o que se exige de uma mãe. E o resgate de suas memórias vai reconstruindo o caminho até as mulheres que são hoje.

 

A proliferação dos solos femininos

Após a temporada de Trem Selvagem, o Teatro de Contêiner abre uma mostra apenas com solos femininos. “Existe uma proliferação de solos femininos porque as mulheres estão precisando contar as suas narrativas, mas não é só isso”, afirma a diretora Erica Montanheiro.

“O poder econômico continua nas mãos de homens brancos. Fiz uma pesquisa no Guia Off do mês de junho e contei apenas 2 espetáculos dirigidos por mulheres nas unidades do Sesc [onde as peças apresentadas recebem uma verba direta da instituição]. No SESI, os últimos espetáculos em cartaz também foram dirigidos por homens. Em 2019, Erêndira [por Marco Antonio Rodrigues], em 2021, Tectônicas [por Marcelo Lazzaratto] e agora, em 2022 Terremotos [por Marco Antônio Pâmio]. Absolutamente nada contra nenhum desses diretores, inclusive admiro o trabalho de todos eles. Mas e as diretoras mulheres? Onde estão? A resposta é: elas estão sempre sem dinheiro e na guerrilha”.

A produção de Trem Selvagem levantou o projeto com 10 mil reais, retirados de reserva pessoal da atriz Denise Dietrich. As atrizes, diretoras e preparadoras corporais não estão ganhando nada pela montagem, com a esperança de que as pessoas assistam e os espetáculos tenham uma longa trajetória.

A diretora de movimento Bruna Longo diz: “não há nada de romântico nisso. Não achamos bonito e não gostaríamos de estar fazendo desta forma – somente fazemos porque não temos outra opção”. As criadoras inscreveram o projeto no Proac, mas não foi contemplado.

Em 2019, Erica Montanheiro e seu parceiro artístico Eric Lenate ganharam um edital do Prêmio Zé Renato para fazer o bem-sucedido projeto “Balada dos Enclausurados”, que era composto por dois solos: um da Montanheiro e outro do Lenate. “Eu só consegui ser aprovada no Prêmio depois de atrelar o meu nome ao do Lenate. Inscrevi o meu solo em diversos editais anteriormente, mas só peguei quando reformei o projeto e o chamei para se juntar a mim”, diz Erica, que ganhou o edital de 250 mil reais na ocasião.

“Não acreditamos que haja uma ação maldosa neste sentido, do tipo: não vamos contemplá-las, pois são mulheres. Mas, há um registro do machismo estrutural das instituições que acreditam que os projetos serão mais bem sucedidos se forem dirigidos por homens. Faz parte da nossa sociedade e é ingenuidade achar que no teatro é diferente. Precisamos olhar para isso, discutir e argumentar: onde está o dinheiro para as mulheres fazerem teatro? Se a gente não tiver oportunidade, como vão conhecer o nosso trabalho? Como vamos ter credibilidade como os nossos colegas homens, que têm o mesmo tempo de carreira e estudo que a gente? Porque eles estão com grandes editais e a gente não? A gente não quer só fazer solos, a gente quer dirigir peças grandes, com elencos diversos, mas isso nunca é possível”, desabafam Erica Montanheiro, Denise Dietrich e Bruna Longo.

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Aquele Trem

“As soluções para a infância precisam ser coletivas, porque os sintomas – tenhamos ou não filhos – o são.” Vera Iaconelli

“A vida de toda mulher contém, de forma explícita ou implícita, a história de um trauma” Karen Finley

No solo autoficcional Aquele Trem, Denise Dietrich buscou as lembranças da sua criação, os abusos e a alienação parental. Assuntos quase não falados numa época quando os castigos físicos se justificavam no discurso social e religioso como formas de amor. Como esses traumas nos transformaram em quem somos hoje? O que fazemos com o que fizeram de nós? São questões que permeiam o espetáculo.

Sinopse: Aquele Trem mostra a menina criada no interior das Gerais, que entre amarelinha, briga de galo e beijo roubado, vê sua meninice ser surrupiada. Agora, esse corpo crescido manifesta toda a perturbação familiar, os abusos e os abandonos que a memória, por sobrevivência, tentava esconder.

Ficha Técnica

Texto e atuação: Denise Dietrich

Direção: Erica Montanheiro

Direção de Movimento: Bruna Longo

Luz: Gabriele Souza

Operação de Luz: Luciana Silva

Cenografia e Arte: Kleber Montanheiro

Videoarte: Julia Rufino

Trilha: Erica Montanheiro

Fotos: Marcelle Cerutti

Assessoria de Imprensa: Pombo Correio

Doença, acidente, violência: a maternidade inaugura a percepção do mundo como um lugar inóspito, e aguça os sentidos para identificar quem é “dos meus” e quem é “o Outro”. A partir da autoficção, Bruna da Matta relaciona sua experiência com a maternidade e o desmascaramento de nossa cultura colonial.

Sinopse: Uma mãe que, assombrada pelo medo de perder seu filho, isola a si e a seu pequeno em busca da segurança absoluta. A partir de sua experiência pessoal com a maternidade, a performer investiga as origens desses medos e, no caminho, vê nossa cultura colonial aos poucos sendo revelada.

Ficha técnica:
Dramaturgia, concepção, atuação e produção: Bruna da Matta
Direção geral e dramaturgismo: Maria Giulia Pinheiro
Direção de cena: Dandara Azevedo
Preparação de corpo e voz: Natália Nery e Dandara Azevedo
Figurino: Éder Lopes
Iluminação: Luciana Silva
Sonoplastia: Jo Coutinho
Operação de luz: Decoff
Videomapping: Vic Von Poser
Assis. de produção: Helena Fraga
Fotos: Marcelle Cerutti
Arte: Vic Moliterno

Serviço

Trem Selvagem

Temporada: 18 de junho a 4 de julho

De sábado a segunda, às 19h (Aquele Trem) e às 20h30 (Selvageria)

Teatro de Contêiner – Rua dos Gusmões, 43, Luz

Ingressos para os dois solos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada)

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