Entre 12 de agosto e 24 de setembro, exposição reúne cerca de 50 pinturas que transitam no limite sutil entre o figurativo e o abstrato sob a curadoria de Ivo Mesquita
O olhar atento e curioso da galerista Vilma Eid sempre surpreende por suas descobertas. Apreciadora e consumidora de arte, ela observa, de forma contínua, todas as correntes artísticas. “Há alguns anos, em um movimento natural, me abri para também trabalhar a arte contemporânea, criada hoje e exibida em galerias, feiras e museus. Nesta exposição temos o prazer de apresentar mais um jovem talentoso, Deni Lantz. Por meio de suas postagens no Instagram, o conhecemos e decidimos trazer a público sua obra”, afirma a proprietária da Galeria Estação. O jornalista e mestre em História da Arte Ivo Mesquita, que trabalhou com o pintor durante meses em seu ateliê, foi convidado por Vilma para assinar a curadoria das obras reunidas nesta primeira individual do artista.
“Deni Lantz: Pinturas”, a mostra que se instala no espaço cultural de Pinheiros a partir de 12 de agosto e ficará em cartaz até 24 de setembro, acolhe uma série de pinturas produzidas entre 2020 e 2022, as quais, de acordo com Mesquita, expressam a originalidade do trabalho de Lantz. “Essa característica reflete o trânsito do artista entre o mundo real, sua experiência direta e avassaladora, e um mergulho profundo na materialidade silenciosa das cores, no manuseio solitário dos meios, no gesto obsessivo e na repetição do fazer”, diz. Ainda de acordo com o curador, exprimir-se pela arte abstrata dispensa qualquer relação inequívoca entre significante e significado, fator que, segundo Mesquita, a aproxima de um outro sistema artístico: a música. “Não por acaso, ambas as disciplinas emprestam vocabulário uma à outra quando falam de ritmo, expressão, gesto, composição, dinâmica, coloratura, tons e linhas, entre outros”, contextualiza.
Memórias, abstração e monocromo
Nas palavras do próprio pintor, suas pinturas evocam memórias e ecos do mundo real, objetos e motivos que elege para habitar o limite sutil entre o figurativo e o abstrato. De acordo com Lantz, a fatura tem papel central em sua prática de pintura. Entre pentimentos, sobreposições, ora com pinceladas mais empastadas, múltiplas camadas de tinta, ora mais rápidas e superficiais, explora diferentes formas de colocar a tinta na tela e revelar ou velar os motivos que tensionam suas composições.
Com trânsito na abstração e no monocromo mais fluido do que na natureza-morta ou na paisagem, a materialidade de suas pinturas torna-se mais protagonista do que os temas escolhidos. Nesse sentido, a cera de abelha é um importante material para o artista, uma vez que concede transparência, empasto e fosquidez a um só tempo; já os pincéis, curtos e duros, depositam e retiram a tinta ao mesmo tempo. Para ele, em seu ofício o como pintar e o que pintar são partes da mesma pergunta.
Sobre sua estreia com uma individual na Galeria Estação, Lantz afirma que, apesar de trabalhar com pintura há vários anos, esta exposição reúne obras mais maduras, frutos de um período mais recente que se mostraram mais concisas nos últimos dois anos e meio. “Eu e Ivo conseguimos reunir um conjunto bem significativo do momento dessa pintura. Pelo fato de eu estar mais maduro, isso permitiu me sentir também mais animado em mostrar esses trabalhos. E esta exposição, para mim, significa o começo de uma longa trajetória nas artes plásticas, o nascimento de um corpo de trabalho que, acredito, vai durar a vida toda”, afirma. Ele acrescenta que não poderia deixar de mencionar que, no ano em que faz sua primeira individual, também nasceu seu primeiro filho, o Tom. “Dois acontecimentos que chegam para somar à minha trajetória pessoal e profissional, coroando esse momento. Uma mudança muita intensa e gratificante que me fez crescer muito como artista e como indivíduo”, diz.
Hoje, ao rever as pinturas selecionadas para a Galeria Estação, Mesquita afirma que a individualidade de cada uma das imagens reside em um amplo leque de atmosferas, do áspero ao onírico, do elegante às irônicas, das leves às mais densas. “Constituem-se como uma écriture, a pintura como um signo que fala da sua constituição material – forma, cor e gesto (escrita) – para a integração sintática da imagem como um todo”, avalia. Indo além, o mestre divaga: “Lantz não procura algo na pintura, mas, em vez disso, espera que algo seja encontrado lá”.
A exemplo de outras exposições que acolhe, a Galeria Estação promoverá, em 20/9, às 19h, um bate-papo presencial entre o pintor Paulo Pasta, o curador Ivo Mesquita e Deni Lentz. Com entrada gratuita, o evento terá transmissão ao vivo pelo canal da galeria no Youtube
(https://bit.ly/geyoutube22 ).
SOBRE DENI LANTZ
Nasceu em 1993 em São Paulo, onde vive e trabalha. Graduado em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), frequentou e expôs em diversas mostras na Casa da Xiclet Galeria, na capital paulista. Aos 13 anos de idade, estudou pintura com o artista argentino Juan José Balzi (1933-2017) e, posteriormente, em 2012, trabalhou como assistente do artista Ernesto Bonato (1968) no Projeto Maré 0.1, como impressor de xilogravuras em grande formato. Também teve, em 2020, o acompanhamento do artista Paulo Pasta. Com participação em cerca de dez mostras coletivas, em 2016 fez residência artística em Havana (Cuba).
SOBRE IVO MESQUITA
Formado em Jornalismo (1972) e com bacharelado em História da Arte (1975) pela Universidade de São Paulo. Atuou como diretor artístico da Pinacoteca do Estado (2012-2015) e como curador-chefe do mesmo museu de 2002 a 2012. Também foi curador-chefe da 28ª Bienal de São Paulo (2008), e diretor artístico do Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM (1999-2002). Como curador, organizou exposições em em museus da Espanha, Portugal, México, Estados Unidos e Canadá. Por mais de uma década foi professor visitante no Centro de Estudo de Curadoria do Bard College, em Nova York, nos Estados Unidos. Vive e trabalha em São Paulo.
SOBRE A GALERIA ESTAÇÃO
Com um acervo entre os pioneiros e mais importantes do país, a Galeria Estação, inaugurada no final de 2004 por Vilma Eid e Roberto Eid Philipp, consagrou-se por revelar e promover a produção de arte brasileira não-erudita. A sua atuação foi decisiva pela inclusão dessa linguagem no circuito artístico contemporâneo ao editar publicações e realizar exposições individuais e coletivas sob o olhar dos principais curadores e críticos do país. O elenco, que passou a ocupar espaço na mídia especializada, vem conquistando ainda a cena internacional ao participar, entre outras, das exposições “Histoire de Voir”, na Fondation Cartier pour l’Art Contemporain (França), em 2012, e da Bienal “Entre dois Mares – São Paulo | Valencia”, na Espanha, em 2007. Emblemática desse desempenho internacional foi a mostra individual do “Veio – Cícero Alves dos Santos”, em Veneza, paralelamente à Bienal de Artes, em 2013. No Brasil, além de individuais e de integrar coletivas prestigiadas, os artistas da galeria têm suas obras em acervos de importantes colecionadores brasileiros e de instituições de grande prestígio e reconhecimento, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo, o Museu Afro Brasil (São Paulo), o Pavilhão das Culturas Brasileiras (São Paulo), o Instituto Itaú Cultural (São Paulo), o SESC São Paulo, o MAM- Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o MAR, na capital fluminense.
(SERVIÇO)
DENI LANTZ: PINTURAS
Quando: 12/8 a 24/9
Onde: Galeria Estação
Endereço: Rua Ferreira Araújo, 625 – Pinheiros, São Paulo
Vernissage: 12/8, das 11h às 19h
Bate-papo com Paulo Pasta, Ivo Mesquita e Deni Lantz: 20/9, às 19h, presencial, gratuito e com transmissão ao vivo no Youtube ( https://bit.ly/geyoutube22 )
Horários de funcionamento da galeria: segunda a sexta, das 11h às 19h; sábados, das 11h às 15h; não abre aos domingos
Tel: 11 3813-7253
Email:contato@galeriaestacao.com.br
Site:http://www.galeriaestacao.com.br/
Instagram: @galeriaestacao