Exposição em SP reúne mais de 200 obras de arte feitas por mais de 150 artistas com cinzas de florestas queimadas

Abertura incluirá a pré-estreia do documentário “Cinzas da Floresta”

Na próxima sexta-feira, 30 de setembro, será aberta em São Paulo a exposição “Cinzas da Floresta”, que reúne mais de 200 obras inéditas de 152 artistas de 11 estados brasileiros. O nome faz referência às cinzas das queimadas de quatro biomas brasileiros – Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado e Pantanal – que foram coletadas pelo artivista Mundano e sua equipe em 2021, em uma expedição de mais de 10 mil km rodados. Essas cinzas foram transformadas na matéria prima das obras expostas, substituindo as tintas convencionais. Todas estarão à venda por preços acessíveis e os recursos arrecadados serão revertidos para a Rede Nacional de Brigadas Voluntárias, contribuindo com a estruturação da RNBV e apoio aos brigadistas.

 

A abertura, a partir de 18h na galeria Pimp My Carroça, em São Paulo, contará também com a pré-estreia do documentário “Cinzas da Floresta”, dirigido por André D’elia, que acompanhou e registrou a expedição em 2021. Com 75 minutos de duração, o filme mostra a importância das brigadas voluntárias de combate a incêndios florestais, e será exibido em sessão única, após a qual os participantes da expedição e convidados participarão de um bate-papo.

 

“Esta exposição é uma denúncia com a floresta em pó e um grito pela floresta em pé!”, sintetiza Mundano, que coletou as cinzas para a produção de uma empena artística de mais de 1.000m2 em homenagem aos brigadistas voluntários – homens e mulheres que combatem os incêndios que destroem as florestas brasileiras ano após ano em um ritmo devastador. Intitulada “O Brigadista da Floresta”, ela é uma releitura da obra “O Lavrador de café”, de Cândido Portinari, que pode ser vista no centro de São Paulo. Seu tema continua extremamente atual: em agosto foram 1.699.993 hectares queimados na Amazônia, 1.190.352 hectares no Cerrado, 47.401 hectares na Mata Atlântica e 19.867 hectares no Pantanal, segundo dados do MapBiomas.

 

A exposição “Cinzas da Floresta” é um desdobramento dessa ação. Com o excedente das cinzas coletadas, surgiu a ideia de distribuir para artistas de todo o Brasil um kit contendo as cinzas, para que novas artes fossem criadas. “Para mim, participar do projeto Cinzas da Floresta foi muito especial pois convivo de perto com a realidade das queimadas aqui na Chapada Diamantina, logo, a ideia de utilizar as cinzas como matéria prima para produzir arte é muito representativo e importante”, explicou Alaido, de Igatu – Andaraí, na Bahia.

Alguns dos artistas relataram a sensação de produzir arte com cinzas de seres vivos, como animais e plantas: “Eu senti muita tristeza ao usar as cinzas, imaginar que são vidas carbonizadas pela ação humana. Pensei muito nas pessoas que vivem, dependem e protegem as florestas. Pensei em como nosso modo de vida está em desequilíbrio com a natureza”, contou AFolego, artista da capital paulista. Gil Leros, de São Luís (MA), descreve sentimentos semelhantes: “O impacto de estar pintando com a ideia de que ali existe um pouco de uma floresta destruída, de alguma forma nos conecta emocionalmente com a tragédia que vem acontecendo há anos em nosso país. Talvez esse seja o material mais significativo que vou utilizar na composição de desenhos.”

Wagner Andrade, do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, experimentou uma sensação diferente: “Incrível a oportunidade de me (re)conectar com a expressão artística, especialmente para fazer dela um manifesto artivista de comunicação. Uma chance de ressignificar o olhar para a tragédia que vivemos como humanidade, mostrando através da arte que ainda há esperança. Que somos capazes de coletivamente gerar e preservar a vida. Muito simbólico pra mim, especialmente por estar vivendo uma segunda paternidade, depois de 10 anos.” (Wagner Andrade/Jd. Botânico – RJ).

 

André D’Elia, diretor do documentário “Cinzas da Floresta”, explica que ele é “um filme abertamente ativista que também funciona como ferramenta de mobilização social e informação, pois conta com depoimentos de cientistas especialistas nos riscos e impactos do fogo ao meio ambiente e à sociedade. O objetivo sempre foi chamar atenção para o problema do fogo, sobretudo na Amazônia, que é um bioma que não queima naturalmente, somente pela ação do homem”, detalha. “A gente descobriu que o poder público não atua no combate a esses crimes ambientais porque não quer. Pois existem tecnologias e ferramentas disponíveis para se fazer valer o cumprimento da legislação ambiental”, ressalta.

 

Após a abertura na galeria Pimp My Carroça, a exposição será montada na Passagem Literária da Consolação, na esquina da Av. Consolação com a Av. Paulista, ao lado do cine Petra Belas Artes, onde ficará em cartaz entre os dias 5 e 30 de outubro.

 

Serviço: Cinzas da Floresta

Abertura: 30 de setembro de 2022 a partir das 18h

Galeria Pimp My Carroça – R. Gustav Willi Borghoff, 378 – próximo à estação de metrô Barra Funda.

Exposição: de 5 a 30 de outubro de 2022

Passagem literária da Consolação: na esquina da Av. Consolação com a Av. Paulista, ao lado do cine Petra Belas Artes. das 9h às 19h.

 

Sobre o diretor do filme

André D’Elia é diretor do gênero cinema socioambiental ativista atualmente conhecido como “cinema pedrada”. Realizador dos longas-metragens A Lei da Água, Novo Código Florestal (2015), Belo Monte: Anúncio de uma Guerra (2012), Ser Tão Velho Cerrado (2017), O Amigo do Rei (2018) e a aclamada campanha “Demarcação Já!” que reúne 25 dos maiores artistas brasileiros, juntos, em defesa da demarcação dos territórios indígenas.

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