Um dos primeiros museus virtuais no mundo dedicado às histórias de vida tem sua trajetória celebrada em mostra que destaca vidas negras, indígenas e o cotidiano brasileiro desde o século 20 até os dias atuais
Em cartaz até 2 de abril de 2023, no Sesc Bom Retiro, a exposição conta com mostra audiovisual e programação integrada com diversas atividades
No dia 3 de dezembro de 2022, sábado, às 11h, acontece a abertura de Qual é seu legado? 30 anos de Museu da Pessoa no Brasil, no Sesc Bom Retiro. A exposição é a primeira das atividades comemorativas dos 30 anos da instituição, que vai contar também com mostra audiovisual, contações de histórias, oficinas, entre outras atividades.
A curadoria geral é de Karen Worcman, diretora e fundadora do museu. Bel Santos Mayer, Cristino Wapichana e Diógenes Moura são curadores convidados, que trazem três focos temáticos: Vidas Indígenas, Vidas Negras e Retratos Brasileiros, com mais de 250 histórias representadas, entre fotos, trechos de depoimentos e recortes audiovisuais.
Qual é seu legado? 30 anos de Museu da Pessoa no Brasil celebra as três décadas deste que é um dos primeiros museus virtuais do mundo voltado a histórias de vida de pessoas comuns. Em seus 30 anos, o Museu da Pessoa – um acervo virtual e colaborativo – já registrou mais de 18 mil histórias que podem ser acessadas no endereço www.museudapessoa.org. Além deste acervo, registrado em áudio e vídeo, a instituição conta com 60 mil fotografias digitalizadas destes personagens, mostrando também o contexto de histórias possíveis do Brasil nos séculos 20 e 21. Para a exposição, a pergunta norteadora Qual é seu legado? traz o reconhecimento do valor humano histórico e social de cada pessoa.
“O Museu da Pessoa trabalha, há 30 anos, para reconhecer o valor humano, histórico e social de cada pessoa. Considera que cada pessoa é singular e carrega, em si, um legado. Seus sonhos, seus amores, suas ações, suas lutas, suas culturas constituem um legado único e, ao mesmo tempo, coletivo. Busca conectar as histórias para promover escutas que levem à compreensão do outro, de si e do papel de cada pessoa para a construção de um legado comum”
Karen Worcman, fundadora e diretora do Museu.
Imersiva, a mostra no Sesc Bom Retiro traz um olhar abrangente sobre as histórias de vida registradas nos 30 anos do Museu. São totens, vídeos, projeções e fotografias em grandes dimensões, além de frases e trechos das histórias contadas e selecionadas pelos curadores. Os núcleos curatoriais – os dedicados a vidas negras e indígenas-, buscam mostrar para o público registros que se tornaram invisíveis ao longo da história. “Quando pensamos em legado, buscamos refletir sobre a sociedade brasileira e mostrar identidades que foram claramente excluídas do que se considera a nossa história”, afirma Worcman.
“Parceiro do Sesc desde os primórdios de sua atuação, o Museu da Pessoa tem como missão tornar a história de toda e qualquer pessoa patrimônio da humanidade. Ao realizar a exposição Qual é seu legado? 30 Anos do Museu da Pessoa no Brasil, o Sesc estimula o debate sobre as possibilidades e as funções dos museus na contemporaneidade e propõe uma imersão em depoimentos e acervos pessoais e familiares, explorando identidades e subjetividades. Trata-se de uma oportunidade de construir, junto com o público, um olhar mais profundo sobre o nosso legado e o legado dos outros, desnaturalizando e complexificando simbologias e culturas nacionais”.
Danilo Santos de Miranda – diretor regional do Sesc São Paulo
Focos temáticos transitam entre negritude, vida indígena e cotidianos
Em Vidas Indígenas, as histórias de pessoas indígenas são apresentadas a partir de composições que evidenciem, em suas experiências pessoais, as formas de viver, existir, sonhar e lutar e de se relacionar com o que pessoas de culturas originárias entendem como seus legados. “É numa compreensão cosmológica que os povos indígenas mantêm sua ancestralidade atualizada. O legado de cada povo está imortalizado em suas histórias, que acolhem, explicam e justificam crenças, modos de vida, conquistas e tudo o que lhes é necessário para ser e estar no mundo”, afirma Cristino Wapichana, curador.
Em Vidas Negras, as histórias de pessoas negras compõem múltiplos legados, transmitidos de geração a geração e que são, na maior parte das vezes, não reconhecidos como valor e saber. Segundo a curadora Bel Santos Mayer, “vidas negras que carregam memórias dos afetos recebidos, dos espaços desejados e construídos. Depoimentos e imagens de pessoas pretas do acervo do Museu da Pessoa que remetem ao colo, à casa e ao quilombo. Vidas negras que desconstroem os imaginários de existências negras miseráveis, ausentes, precárias, perdedoras, abandonadas. Entre luta e festa, dor e amor, lágrimas e sorrisos, vidas reunidas e povoadas por palavras”.
Já em Retratos Brasileiros, o foco temático é destacar, pontuar, apresentar e compor, por meio do acervo imagético do Museu da Pessoa, legados que se traduzem nas vidas cotidianas, com suas formas de construir, viver, vestir, ritualizar, marcar o cotidiano, educar, festejar e morrer. “Uma exposição de fotografias é um legado que vai povoar os olhos de quem ‘enxerga’. A diferença entre ‘ver’ e ‘enxergar’ é um abismo. Por dentro de cada uma dessas imagens existe a palavra, o suspiro da palavra, vidas que se completam diante de um único espelho: gravadas nos arquivos do Museu da Pessoa, refletem, nesse mesmo espelho, as histórias de outros que somos cada um de nós”, afirma o curador Diógenes Moura.
Além dos núcleos curatoriais, há dois espaços a serem destacados na exposição. A Cabine, onde o público é convidado a refletir e responder a pergunta que norteia a exposição (Qual o seu legado?), deixando registrado seu depoimento para a posteridade. Esses depoimentos, gravados em vídeo, serão automaticamente transmitidos no espaço expositivo e entram para o acervo. Desta forma, a reflexão de cada visitante se torna espaço constitutivo da exposição. E na Biblioteca do Sesc Bom Retiro, o visitante pode acessar documentos, podcasts e livros.
Mostra Audiovisual
No dia 15 de dezembro, acontece a cerimônia de premiação da Mostra Audiovisual Qual é o seu legado?, com a divulgação de 15 vídeos selecionados em edital lançado em agosto de 2022 pelo Museu. A curadoria e seleção – foram 385 inscritos no total – é feita por uma comissão formada por André Araújo, Barbara Trugillo, Felipe Damasco, Karen Worcman, Luciana Bobadilha e Minon Pinho. A proposta do edital foi a de que os participantes fizessem uma leitura audiovisual sobre uma história escolhida a partir do acervo do Museu. Esta leitura audiovisual deveria mostrar qual seria o sentido que determinada pessoa deu para a sua vida, e, afinal, qual seria o seu legado.
Museu da Pessoa e Sesc São Paulo
O Museu da Pessoa e o Sesc São Paulo têm uma trajetória e parceria que já dura 28 anos. Entre as atividades que realizaram conjuntamente, está o projeto Memórias do Comércio em São Paulo, iniciada em 1994, com objetivo de registrar as histórias do comércio com foco em narrativas de vida de comerciantes, comerciários e pessoas envolvidas na cadeira produtiva do comércio. Em 2017, quando completou 25 anos, o Museu realizou a exposição “Quem sou eu”, no Sesc Vila Mariana, vista por mais de 17 mil pessoas. A parceria rendeu também inúmeros seminários e fóruns internacionais, como o Workshop Internacional Espaços de Memória e Cultura, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc. Também organizaram fóruns colaborativos que deram início a um movimento nacional chamado Brasil Memória em Rede, além do Seminário Internacional Memória, Rede e Mudança Social, que contou com palestras de Ailton Krenak, Alberto Dines, Eduardo Coutinho, Ruy Castro, entre outros.
Sobre as(os) curadoras(es)
Bel Santos Mayer é educadora social, coordenadora do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário – IBEAC, co-gestora da Rede LiteraSampa, docente da pós-graduação Literatura para Crianças e Jovens do Instituto Vera Cruz. Mestra em Turismo (USP). Licenciada em Ciências/Matemática (USJT) e Bacharel em Turismo (UAM), com especialização em Pedagogia Social(UniSal). Curadora da 11ª Edição do Prêmio São Paulo de Literatura, do Conselho Curador do 63° e 64° Prêmio Jabuti e do Conselho Curatorial do Theatro Municipal de São Paulo. Prêmios recebidos: Retratos da Leitura no Brasil-2018; 67° Prêmio APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes na categoria “Difusão de Literatura Brasileira”.
Cristino Wapichana é escritor, músico, compositor, cineasta e contador de histórias. Patrono da Cadeira 146 da Academia de Letras dos Professores (APL) da Cidade de São Paulo. É autor do livro A Boca da Noite, traduzido para o dinamarquês e sueco, vencedor da Estrela de Prata do Prêmio Peter Pan 2018, do International Board on Books for Young People (IBBY); escolhido pela Seção IBBY Brasil para figurar a Lista de Honra do IBBY 2018: Prêmio FNLIJ 2017 nas categorias Criança e Melhor Ilustração; Prêmio Jabuti 2017; finalista do Prêmio Jabuti 2019. Selo White Revens – Biblioteca de Munique – 2017. Medalha da Paz – Mahatma Gandhi 2014. Livros selecionados para o clube de leitura da ONU 2021.
Diógenes Moura é escritor, curador de fotografia, roteirista e editor. Nascido em Recife, é semifinalista do Prêmio Oceanos 2022 com o romance Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina, (Vento Leste Editora). Em 2022, recebeu o Prêmio APCA pela pesquisa e curadoria da exposição Terra em Transe, realizada no Museu Afro Brasil, entre 2021 e 2022. Entre 1998 e 2013 foi curador de fotografia de Pinacoteca do Estado de São Paulo. É curador de importantes exposições no panorama da fotografia brasileira em instituições como MAM-RJ, Itaú Cultural, Sesc, MIS, Museu de Arte Contemporânea Dragão do Mar, Museu Afro Brasil e Museu da Fotografia de Fortaleza.
Serviço
Exposição Qual é seu legado? 30 anos de Museu da Pessoa no Brasil
Abertura: Dia 03 de dezembro, sábado, 11 horas
Período expositivo: De 03 de dezembro de 2022 a 02 de abril de 2023
Visitação: terça a sexta, das 9h às 20h; sábado, das 10h às 20h; domingo e feriado, das 10h às 18h
Cerimônia de premiação Mostra Audiovisual Qual é o seu legado?
Dia 15 de dezembro, 19 horas
Sesc Bom Retiro
Alameda Nothmann, 185 – Bom Retiro – São Paulo
Entrada gratuita. Não é necessário realizar agendamento.
Agendamento de grupos: agendamento.bomretiro@sescsp.org.br
*De acordo com novas diretrizes da Prefeitura de São Paulo, em função do aumento de casos de Covid-19, o uso de máscaras volta a ser obrigatório nas dependências do Sesc.
Estacionamento
O estacionamento do Sesc oferece espaço para pessoas com necessidades especiais, carros de baixa emissão, carros elétricos e bicicletas. A capacidade do estacionamento é limitada. Os valores são cobrados igualmente para carros e motos.
Entrada: Alameda Cleveland, 529.
Valores: R$ 5,50 a primeira hora e R$ 2 por hora adicional (Credencial Plena). R$ 12 a primeira hora e R$ 3 por hora adicional (Outros).
Valores para o público de espetáculos à noite: R$ 7,50 (Credencial Plena). R$ 15 (Outros).