Exposição “Chá, um viaduto. Algumas histórias.” celebra os 130 anos de uma das mais relevantes travessias de São Paulo

Unidade do Museu da Cidade de São Paulo, Chácara Lane expõe cerca de 45 itens que trazem à tona a representatividade do viaduto para a expansão da cidade de São Paulo

São Paulo, dezembro de 2022 – Mais que um mero recurso de travessia, o Viaduto do Chá é um símbolo de modernidade para São Paulo. Essa é a defesa feita pela exposição Chá, um viaduto. Algumas histórias., que entra em cartaz a partir deste sábado (10/12) na Chácara Lane, unidade do Museu da Cidade de São Paulo, instituição vinculada à Secretaria de Secretaria Municipal de Cultura. A mostra é reflexo de extensa pesquisa da curadora e historiadora da arte Ana Paula Nascimento e celebra 130 anos deste marco do urbanismo. Chá, um viaduto exigiu uma seleção iconográfica a partir de croquis, fotografias, cartões-postais, coleta de depoimentos, vídeo, obras de arte e registros de instalações, e poderá ser conferida até 28 de junho de 2023.

Ao todo foram reunidas mais de 45 peças pertencentes ao acervo do Museu da Cidade de São Paulo e de outras instituições de memória, dentre elas as bibliotecas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e da Escola Politécnica (EP) da Universidade de São Paulo, além do Instituto Moreira Salles (IMS) e do Arquivo Histórico Municipal de São Paulo. Entre as obras estão a reprodução de uma perspectiva de Flávio de Carvalho para o concurso de 1934, assim como as de Elisário Bahiana e Rino Levi, e registros do viaduto efetuados por grandes nomes da fotografia brasileira, como Marc Ferrez, Benedito Junqueira Duarte, Marcel Gautherot, Alice Brill e Juca Martins.

“O grande propósito é mostrar o viaduto muito além de um lugar de passagem”, almeja a curadora. “Sobretudo, interessa levar ao conhecimento e à reflexão o simbolismo, o caráter representativo dessa estrutura para a cidade de São Paulo”, explica. “A exposição recupera a cronologia e contextualiza a relevância do Viaduto do Chá, trazendo informações que vão desde a inauguração do primeiro viaduto, feita em metal, até as interferências artísticas levadas a cabo no espaço em dias atuais”, completa.

Espectador e palco constantes

Tema de música e cenário de novela, o Viaduto do Chá é um dos grandes marcos da arquitetura paulista. A primeira estrutura, feita em treliça metálica, foi idealizada pelo litógrafo francês Jules Martin e oficialmente inaugurada em 6 de novembro de 1892 – sendo contemporânea à celebrada Torre Eiffel, construída em Paris em 1889 com o mesmo material.

Trata-se do primeiro viaduto construído na capital paulista, ligando a colina do Triângulo Histórico ao então “Centro Novo”. Seu nome faz referência ao Morro do Chá, localizado na encosta da atual Rua Xavier de Toledo e às plantações de chá que existiam naquele período no Vale do Anhangabaú. Sua instalação suscitou o embelezamento da região, sendo criado o Parque Anhangabaú, concluído no final da década de 1910, ao lado dos edifícios de fachadas europeias.

Com o aumento do trânsito, congestionamentos e forte urbanização do centro de São Paulo, a estrutura passou a dar sinais de fadiga. Para substituí-lo, a Prefeitura instituiu durante a década de 1930 um concurso para a construção de outro viaduto no mesmo local. Levou a proposta do arquiteto carioca Elisário Bahiana, responsável também por projetar, em uma das cabeceiras do Viaduto, o edifício que por muitos anos abrigou o Mappin.

Em 18 de abril 1938 o novo viaduto foi inaugurado ao lado do antigo, construção esta em concreto armado, com quase o dobro da largura. No dia, a estrutura metálica começou a ser desmontada. “O Chá é testemunha e parte ativa da transformação da região do Vale do Anhangabaú de quintal a centro simbólico, convertido em principal cartão-postal da cidade ao menos até meado do século 20”, relata a curadora. “É nesta área que por um período ocorre a maior travessia de pedestres da urbe. Mas, além das aglomerações e do trânsito intenso, ele presenciou e presencia comemorações, espetáculos, práticas comerciais, manifestações artísticas, atos cívicos e ações solitárias”, conclui.

Percurso

A mostra ocupa sete salas, distribuídas em dois andares da Chácara Lane. Na primeira galeria, o público se depara com fotografias realizadas ao longo da existência do viaduto, revelando uma São Paulo que se moderniza rapidamente ao longo do século 20. Nesse ambiente também estarão expostos cartões-postais que desvelam o magnetismo do viaduto.

Na sala seguinte, os visitantes poderão conhecer as reproduções, tanto parcial do projeto de Jules Martin, como de alguns dos projetos que participaram do concurso para elaboração da nova versão do Chá. Em um ambiente anexo, o visitante encontra também espaço destinado à leitura e pesquisa de títulos, materiais acadêmicos e catálogos relacionados ao Viaduto e aos artistas com trabalhos na exposição. Na sala ainda uma maquete tátil do viaduto.

Em seguida, o visitante irá se deparar com fotografias que colocam, lado a lado, as duas versões do viaduto – a estrutura metálica, desmontada, e a atual, de concreto armado – e também terá acesso a um ambiente dedicado a exibir vídeo-depoimentos de três professores vinculados à USP: Fraya Frehse, Regina Meyer e Ricardo Marques de Azevedo.

No segundo andar, os visitantes terão acesso a registros e obras relacionadas às instalações artísticas. De Rubens Mano um nova apresentação de Detetor de ausências, reflexão a partir de apresentado em 1994 no contexto da exposição Arte cidadea cidade e seus fluxos.De Ana Teixeira, que efetua ações desde a década de 1990, os registros e objetos de Escuto histórias de amor Outra identidade. Ambos se valeram do Viaduto do Chá para discutir identidade, solidão e pertencimento. Em outra galeria são apresentadas fotografias que mostram cenas cotidianas no local: pedestres em passagem, multidões reunidas, trânsito movimentado…

Também neste andar estão presentes os trabalhos de Paulo von Poser, artista apaixonado pela cidade de São Paulo, em especial pelo centro histórico. Ele também coordenou, junto com Carla Caffé, um desenho coletivo do Viaduto do Chá especialmente realizado  para a exposição pelos estudantes da disciplina que ministra na Escola da Cidade. Para finalizar, uma linha do tempo dessa estrutura tão emblemática da capital paulista.

Atualizações constantes

De longa duração, Chá, um viaduto contará com ativações e novidades ao longo do período expositivo. Até o fim de janeiro, a mostra vai inaugurar uma sala com fotografias do viaduto realizadas por Cristiano Mascaro especialmente para a mostra.

No mesmo mês, será montada uma projeção imersiva a partir de uma filmagem realizada por drone ao redor do Viaduto e do Vale do Anhangabaú, de modo a fazer com que o visitante sinta que está sobrevoando a região. Além disso, será realizada uma pequena mostra itinerante no passeio do viaduto, em que serão distribuídos painéis com reproduções das fotografias feitas no local em diferentes momentos.

 

Sobre a curadora

Atualmente, Ana Paula Nascimento é docente do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (MP USP), curadora-adjunta de “Mundos do trabalho”, uma das exposições de longa duração do novo Museu do Ipiranga. Doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), atuou como pesquisadora colaboradora do Museu Paulista na coordenação interna do projeto “Hercule Florence: Patriarca da Iconografia Paulista” (2019-2021).

Além disso, realizou atividades em outras instituições culturais de São Paulo. Entre elas, atuou como curadora e pesquisadora da Pinacoteca de São Paulo, de 2003 e 2013, e coordenou o Setor de Documentação e Conservação do Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM SP).

A ideia para a exposição surgiu enquanto a curadora, doutora em arquitetura pela USP, realizava estágio pós doutoral na FAUUSP sobre a atuação do Escritório Técnico Samuel das Neves no estado de São Paulo. Em meio à pesquisa, realizada entre 2013 e 2018, ela encontrou uma proposta de remodelação do Viaduto do Chá datada de 1911, a partir de uso misto de materiais, unindo metal e concreto armado. “Pude perceber ali o quão central era aquela estrutura para o centro da capital. É, de fato, um lugar de travessia que serviu como ponta de lança para a modernização da cidade”, afirma.

 

Sobre o museu

A Chácara Lane, localizada no Centro da capital paulista, é uma das 13 unidades do Museu Cidade de São Paulo, que tem como sede o Solar da Marquesa dos Santos e inclui entre seus espaços de exibição a Casa Modernista e a Cripta Imperial. Identificado com a categoria de museu de cidade (ICOM/UNESCO), além de seus acervos institucionais, o Museu toma a cidade e seus territórios como acervo operacional, sob a ótica interdisciplinar com várias abordagens teóricas, como arquitetura, história, sociologia e arqueologia.

 

SERVIÇO

Exposição: Chá, um viaduto

Data: 10/12/2022 até 28/06/2023

Horário: de terça-feira a domingo, das 9h às 17h

Local: Chácara Lane – Rua da Consolação, 1024, Centro – São Paulo/SP

Gratuito

 

 

SOBRE O MCSP

Resumo sobre o Museu que pode ser extraído dessa página: https://www.museudacidade.prefeitura.sp.gov.br/sobre-mcsp/

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