CANTOS DE ORIGEM é o nome do projeto discográfico de autoria de Cauê Silva e Jéssica Areias. É uma oferenda, uma reverência ao movimento de resistência ancestral, da união das culturas Afro/Bantu/indígenas oriundas do encontro entre as sonoridades das regiões Congo/Angola e Brasil, com o desejo de mostrar a força dos seus antepassados, através da música de terreiro, da capoeira, do folclore e das línguas tradicionais Bantu, trazendo suas representatividades de sabedoria, força, resistência, resiliência, beleza, afeto, saudade, orgulho e continuidade. Uma forma singela da união próspera das suas culturas.
Com repertório autoral, parcerias e algumas releituras de cantigas populares e folclóricas da Cultura Afro/Bantu/Indígnea, o disco conta com a participação especial de Gabi Guedes, Iuri Passos, Iya Zefinha de Yemoja, do Grupo indígena Yamititkwa Sato da Etnia Fulniô, de Ermi Panzo, Leonardo Matumona, Érica Navarro, Renatinho do Violino, e de um coro formado pelas cantoras: Nara Couto, Bia Goes, Lilian Rocha e Jéssica Américo, além de mais de 30 músicos gravando e fazendo os arranjos coletivamente.
Cantos de Origem por Roberto Caribe Mendes (músico, compositor e pesquisador de Santo Amaro da Purificação
Andei por andar andei. Andei por meu Santo Amaro, pela Bahia, por boa parte do Brasil e de alguns países do mundo. Caminhei léguas e léguas, à caça, à cata de cantos e melodias que acariciassem os meus ouvidos. Brincassem com a minha alma, meu espírito.
Diga-se, a bem da verdade, que nessas andanças, ouvi e ainda ouço tantas canções. Muitas delas, com efeito, acarinharam-me os ouvidos e brincaram com minh`alma.
Dia desses, contudo, um canto alcançou-me os ouvidos e causou imediato enlevo, arrebatamento.
Trata-se de um canto de fé em louvor à nascente, à matriz. Algo que vai bem além, que transcende o canto e alcança o encantamento, o sortilégio…
Um canto cujo tempo é o rio. Boia levada pela correnteza; e essa mesma correnteza é quem define. É, em verdade, tradução de comportamento. Nele a soma de dois é um.
Eu, tal qual Ulisses — maravilhosamente seduzido pelo Canto das Sereias — só posso é gostar, admirar, bater ruidosas palmas. Não tenho dúvidas de que esse canto vai se espalhar e seduzir boa parcela da nossa gente.
Informações do show: 30/6
- Local: CCSP (Centro Cultural São Paulo)
- Sexta-feira, às 19h
- Sala Adoniran Barbosa
- Classificação indicativa: livre
- Gratuito
- Os ingressos podem ser reservados online através do link ou presencialmente
- Funcionamento da bilheteria presencial:
- Terça a sábado, 13h às 22h
Domingo e feriados, das 12h às 21h - Para mais informações sobre o funcionamento da Bilheteria, física e online, clique aqui
- É recomendado o uso de máscara
- Informações: https://centrocultural.sp.gov.br/show-de-lancamento-de-cantos-de-origem-jessica-areias-e-caue-silva/
Sobre os artistas:
Cauê Silva – Percussionista autodidata e capoeirista Brasileiro, oriundo do candomblé. Cauê é licenciado em Educação Física pela FEFISA. Integrante dos grupos: “Höröyá” e do bloco “Os Capoeira”, em que ministra o curso de percussão junto com Mestre Dalua, Felipe Roseno e Contra-mestre Leandrinho. Acompanhou as cantoras: Mariene de Castro, Mariana Aydar, Luê, Uly Costa, Beatriz Rodarte, Nara Couto, Lívia Mattos, Laetícia, Elza Soares, Lia Paris, Xênia França, Márcia Castro, Verónica Ferriani e Giana Viscardi com quem viajou para Europa em duas turnês e para África. Acompanha as/os Cantorxs: Jéssica Areias, Luedji Luna, Virgínia Rodrigues, Tiganá Santana, Roberto Mendes, entre outros, além de integrar a banda do projeto “Bitita – As composições de Carolina Maria de Jesus”.
Jéssica Areias – Cantora, compositora e preparadora vocal Angolana. Dona de uma personalidade musical bastante eclética, reúne na sua bagagem um misto de influências, que vão das suas raízes africanas ao fado e do jazz à MPB. Jéssica é licenciada em educação musical (Fpa) e pós-graduada em regência coral(Fpa) e Pedagogia vocal(Fasm).
Há 13 anos no Brasil, Jéssica Areias tem dois álbuns autorais lançados Olisesa (2014) e Matura (2021).
No ano passado, fez o show de lançamento presencial do álbum Matura, na Casa de Cultura Os Capoeira e integrou o projeto Brasil – Angola ao lado de Tiganá Santana, duas noites de show no Sesc 24 de Maio. Em 2023, apresentou o disco Matura no Festival Oferendas em Salvador, no Sesc Pelourinho, Pompeia, e Santo André.
Músicas do álbum
1. Àgò
(Cauê Silva e Jéssica Areias)
Toque é reza
Canto é dança
Reza é canto
Toque é dança
Dança é reza
Toque canta
Corpo conta
Reza encontra
Corpo encanta, se levanta a bailar
Das saias rodadas, contas coloridas, cabeças floridas, maneira de expressar
Reza certa, corpo entrega, santo pega, manifesta, vira festa
Corpo ecoa, no couro a mão soa, brado entoa, corpo arrepiar
Minha ancestralidade, no reino de liberdade, vive história pra contar
Minha mãe, mar de muita gente, braço e barco forte
Segue em frente, nunca temeu a morte, sina é continuar
Minha mãe me ensinou a rezar
Reza é banho, no corpo encanto
Yorùbá, Jeje, Bantu
O meu asè é minha energia vital.
Ficha técnica
Voz, cabaça, agogô, qraqeb: Cauê Silva
Naipe de atabaques: Cauê Silva, Iuri Passos, Leandro Vieira, Roggi Pixaim
Trombone: Edy Trombone
2. Quebra demanda
(Cauê Silva e Jéssica Areias)
Êlalaê laiê ê lalaiêlá
Quebra demanda jongueiro
Quebra demanda
Quebra demanda jongueiro
Quebra demanda
Eu já mandei quebrá, sim senhô
Eu já mandei quebrá, ô sinhá
Apanhei cipó, aroeira, lantana, camará
Roguei a Deus do céu, meu senhô
Pra demanda quebrá, ô sinhá
Roguei a Deus do céu, meu senhô
Pra demanda quebrá, ô sinhá
Ô eu vim de lá
Ô de longe, do outro lado do mar
Aprendi a rezar candongueiro
Kalunga há de escutar, ô sinhá
Eu já mandei quebrá, sim senhô
Eu já mandei quebrá , ô sinhá
Olálá aê oláêlá
Ficha técnica
Voz 1 e coro: Jéssica Areias
Voz 2, atabaque lé, atabaque run, surdo virado, mpc live, ganzá, caxixi, tama, palmas: Cauê Silva
Atabaque rumpi, dobra de run, xequerê: Leandro Vieira
Palmas: Roggi Pixaim
Trombone e voz dobrando: Edy Trombone
Violões: Leonardo Mendes
Baixo: Ldson Galter
Coro: Bia Goes, Jéssica Américo, Lilian Rocha, Nara Couto
3. Pensamento
(Professor Pernã)
Pensamento, vai seguindo na frente que eu chego depois
e o que guardo na lembrança
Os olhos brilham quando de novo se encontrar
Sentimento, olho no céu vejo as estrelas
na folhagem sinto o vento
Dias de chuva mata escura, me guarde por dentro
Dias de chuva mata escura, me guardo por dentro
Caxixi, cadê berimbau que tava aqui
assentado no chão
parecia pé de milho
folguedo de capoeira
Xangô é Rei, São João menino é da fogueira.
Ficha Técnica
Voz 1: Mestre Maurão
Voz 2: Jéssica Areias
Voz 3: Mestre Luizinho
Berimbau viola, atabaque, triângulo, surdo virado, pandeirão, palmas, cabaça, caxixi, caracaxá: Cauê Silva
Berimbau, pandeiro, palmas: Leandro Vieira
Palmas: Roggi Pixaim
Violões: Leonardo Mendes
Baixo: Ldson Galter
4. Aiwé Mama, Aiwé Mana
(Jéssica Areias e Cauê Silva)
O dia estava a nascer
40 graus a bater, e ela ali
Todos mambos vender
N’dengues cuidar e vencer, pra seguir
Foi descendo a Maianga
Que eu vi, aquela mulher
Bué de panos, bué de frutas
Eu vi, aquela mulher
Aiwé Mama, aiwé Mana
Ficha Técnica
Voz e coro: Jéssica Areias
Cabaça, dikanza, mukindo, atabaques: Cauê Silva
Violões: Érick Kalonji
Guitarras: Leonardo Mendes
Baixo: Ldson Galter
Piano: Fábio Leandro
5. Omí
(Jéssica Areias e Cauê Silva)
Coração da beleza
Colo do mundo
Dona da sutileza
Feitiço profundo
Fonte de gentileza
Seio do afeto
Dona delicadeza
O amor é seu dialeto
Seu canto fortaleza
Acalma e acolhe
Toda a grandeza
Não há quem não olhe
Livre por essência
Sempre acha passagem
Dona malemolência
Mistério é sua linguagem
Sábia por natureza
Banhada de mel e cobre
Dona da realeza
Não há quem a dobre
Coração da beleza
Colo do mundo
Dona da sutileza
Feitiço profundo
Seu canto fortaleza
Acalma e acolhe
Dona da realeza
Não há quem a dobre
Yalodê, Yalodê Ya
Ficha Técnica
Voz e coro: Jéssica Areias
Congas, caxixi, timbau, efeitos: Lenynha Oliveira
Ashiko, dununs, cabaça na água, xequerê, efeitos: Sthe Araújo
Agogô e efeitos: Cauê Silva
Violões e synth: Neila kadhí
Baixo: Carla Suzart
Coro: Bia Goes, Jéssica Américo, Lilian Rocha, Nara Couto
6. Onanga ya papai
(Cantiga em Umbundo, do folclore Angolano oriundo dos ovimbundos)
Onanga ya papai ha yo tchaliko,
yalanda osandji yange y’ekondombolo.
Ndipiluka, ndi sõsi.
Ndipiluka,
Nda sakwatele osandji y’ekondombolo,
onanga yapapai nda sayimwilē.
Uele papai
Tradução para português:
“O pano do meu pai não é de favor, custou a minha galinha de galo. Danço, sou vaidoso. Se não tivesse a galinha de galo, não teria encontrado o pano do meu pai.”
Ficha Técnica
Voz e coro: Jéssica Areias
Agogô, atabaque rumpi, palmas, caxixis: Cauê Silva
Atabaque Lé, palmas: Leandro Vieira
Palmas: Roggi Pixaim
Atabaque run: Gabi Guedes
Violões: Érick Kalonji
Baixo: Ldson Galter
Coro: Bia Goes, Jéssica Américo, Lilian Rocha, Nara Couto
7. Féa Hia/Saudações aos povos originários
(Jéssica Areias, Cauê Silva, Txalê Fowá, Wadja, Twlkya, Doyá)
Féa hia – Filhos da Terra
ÔA FEALHA THAKÊ YA TX’TXÔ
KAK’DOT’KYA YAKÊ EDJADWALHA
ETY’KYA YA TX’TXOLHA KAK’SEHEMÃ
YOOKAHE YAK’FAL’TÊ
YA TOOKHETA, DAT’KAHLA
Cantiga em YATHÊ – Língua oriunda da etnia Fulniô
Único grupo indígena do nordeste que conseguiu manter viva e ativa a própria língua- o Yathê “Ia-tê” – que significa nossa boca, nossa fala, nossa língua. “Nos orgulhamos de ser uma etnia que manteve as práticas linguísticas acessas, vívidas. Nós Fulni-ô apresentamos narrativas orais de cunho étnico em relação ao presente, assim como fazemos uso da memória para defender nossa identidade.”
Tradução para Português:
Nós não estamos nos comportando bem na terra.
O Grande Espírito nos ensina como se comportar e o que fazer.
Então, vamos ouvir nossos anciões e nossos pais.
Saudações aos povos originários
ôh Jurema, guardai a força do seu Juremá
Guardai seu Pena Verde da Jurema
Lerê lerê lerá
Ele atirou, ele atirou ninguém viu
Só o caboclo é quem sabe
Aonde a flecha caiu
Ficha Técnica
Vozes Fulni-ô: Txalê Fowá, Wadja, Twlkya, Doyá
Voz 1: Iyalorisa Zefinha d’Yemoja
Voz 2: Jéssica Areias
Voz 3, atabaque lé, rumpi, efeitos, apitos, mpc live, agogô, palmas, caxixi: Cauê Silva
Timbau, surdo virado: Os capoeira (Mestre Dalua, Felipe Roseno e Leandro Vieira)
Violões: Leonardo Mendes
Baixo: Ldson Galter
8. Tsimba
(Jéssica Areias, Cauê Silva, Ermi Panzo, Leonardo Matunoma)
Tsimba kuna kuza
Towuta mosika
Tokokende mosika
Toyebi te nini ekoyela biso
Zala Makasi
Zala Makasi na mokili
Tsimba kuna kuza
Tradução para português:
Viemos de muito longe
E vamos chegar longe
Não sabemos o que irá acontecer
Seja forte
Seja muito forte neste mundo.
Ficha Técnica
Cantiga em Lingala
Voz 1: Jéssica Areias
Voz 2: Leonardo Matumona
Voz 3: Ermi Panzo
Agogô, atabaque run, sabar thiol tambat: Cauê Silva
Ilu melé ankó, timbau: Rudson Daniel
Ilu yan, djembe, ganzá: Maurício Badé
Violões: Érick Kalonji
Baixo: Ldson Galte
9. Ngassakidila
(Jéssica Areias, Cauê Silva, Leonardo Matumona)
Tuizidi kovutula matondo
Kua beno muma monsuno
Aê aê aê êa
Aê aê aê êa
Ngassakidila aê aê
Nagassakidila aê êa
Tradução para português:
Viemos agradecer a vocês por tudo
Obrigada!
Ficha Técnica
Cantiga em Kimbundo e kikongo
Voz e coro: Jéssica Areias
Atabaque run, Lé, agogô, palmas, cabaça: Cauê Silva
Atabaque rumpi, xequerê, palmas: Leandro Vieira
Palmas: Roggi Pixaim
Trombone: Edy Trombone
Violões: Leonardo Mendes
Baixo: Ldson Galter
Coro: Bia Goes, Jéssica Américo, Lilian Rocha, Nara Couto
10. Baobá
Letra: Cauê Silva, Jéssica Areias, João Vítor
Composição: Cauê Silva e Jéssica Areias
Raízes do imbondeiro, baobá,
as flores do meu lugá
Sempre que piso esse chão
Tambor, me chama como um clarão
Ayan é o som do sagrado
Entoa seu próprio brado
Raízes do imbondeiro, baobá,
as flores do meu lugá
Tudo no tempo de tempo
Matriz, no meu coração barra-vento
Babá, em mim consagrado
Entoa seu próprio brado.
Oriki para Obatalá
Bàbá arúgbó aláṣọ àlà funfun gbò
*O ancião que se veste de branco*
N ó ṣe tí ẹ láyé lọrun
*Submeto-me a você*
Lékè ti jí tẹfuntẹfun
*A garça que acorda em branquitude*
Bàbá mi jí tẹfuntẹfun
*Meu Pai que levanta em branquitude*
Oní bàtà funfun
*Dono dos sapatos brancos*
Ṣòkòtò funfun
*Calça branca*
Ẹwù funfun
*Camisa branca*
Ìrùkẹ̀rẹ̀ funfun
*Adereço branco*
Ohun tí mo ní n ó fi sìn ọ
*Dedico tudo que posso a você*
Òrìṣà Ńlá ọ̀ṣẹ̀rẹ̀màgbò n ó ṣe tìẹ l’ọ́jọ́ ayé gbogbo
*Oxalá ọ̀ṣẹ̀rẹ̀màgbò me dedico a você eternamente*
Nlé aládé ṣẹ́ṣẹ́ẹfun
*Saúdo vossa autoridade de miçangas brancas*
Ficha Técnica
Oriki em Yorùbá
Voz 1: Jéssica Areias
Voz 2, atabaque run, tama: Cauê Silva
Voz 3: Idowu Akínrúlí
Violoncelo: Érica Navarro
Violino e arranjo: Renato Pereira
M’bira: Otis Selimane
Gravações realizadas nos Estúdios 185, Itabuna e 1,2,3 gravando, no mês de Março e Abril de 2023.
Engenheiros de som, captação, gravação e edição de áudio: Beto Mendonça, Sebastian Notini, Fábio Christoni.
Edição criativa de áudio: Leonardo Mendes, Jéssica Areias, Cauê Silva
Mixagem e Masterização: André Magalhães.
Produção musical: Jéssica Areias e Cauê Silva
Arranjos: Coletivos