A encenação intimista, com música ao vivo, apresenta histórias inspiradas em personagens reais que habitam bairros cortados pelo Rio Pirajussara. A proposta é mostrar a poética do cotidiano de um povo e suas histórias em tramas que envolvem dores, risos e festejos
Inspirado em histórias de moradores da região de Campo Limpo e Taboão da Serra, o Bando Trapos apresenta o espetáculo Pirajussara: Vozes à margem com direção de Cleydson Catarina e dramaturgia do próprio coletivo. Os atores Daniwel Trevo, Dêssa Souza, Joka Andrade, Patricia Ashanti, Stefany Veloso e Welton Silva dão vida às histórias que são entrelaçadas por aparições de Pirajussara, uma mulher-cabocla-rio que traz seu olhar de natureza para essas narrativas. A trilha sonora é executada ao vivo com a participação dos músicos Marcelo Lima e Yuri Carvalho, além dos próprios atores que se revezam no manejo de instrumentos como violão, sanfona, tambor, rabeca e atabaque.
O Bando Trapos apresenta o espetáculo no Espaço Cultural CITA (Dia 24 de novembro), sede do grupo, e na Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino (25 de novembro), ambos em Campo Limpo. As ações integram o projeto Terristória Poranduba, realizado com o apoio da 40ª Edição do Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, que também prevê a edição e finalização de um documentário, uma oficina de máscaras com Cleydson Catarina, um processo de autoformação para cada um dos integrantes do coletivo, além de um festival envolvendo grupos convidados.
Personagens do Cotidiano
O grupo está há mais de 10 anos atuando na área do Campo Limpo e foi imprescindível para a ressignificação do Espaço Cultural CITA. A sede fica em frente a uma praça que é lugar de convivência para os moradores, o que acaba resultando em trocas no dia a dia, combustível vital para a pesquisa da cia e o espetáculo.
“A encenação é intimista e o público é apresentado aos personagens que estão mais perto do que se imagina. A proposta é mostrar a poética do cotidiano de um povo e suas histórias. Toca em questões afrodescendentes, na potência dos corpos negros. São tramas envolvendo dores, risos e festejos, é um teatro de manifestações”, conta Cleydson Catarina.
Em cena está Dona Branca que é inspirada em Dona Deyse, moradora na rua dos fundos da sede do Bando Trapos. Sua casa fica no meio de uma chácara, onde ela planta, cria bichos e tem uma relação de constante resistência contra a especulação imobiliária.
Outra personagem, Dona Zu, tem como ponto de partida a história de Beth, uma moradora do Campo Limpo, que na década de 1990 transformou a própria casa em uma escola de teatro.
Já Dona Rosa é espelhada na trajetória de Ione, moradora do Parque Marabá no Taboão da Serra, que como outras mulheres das periferias se casou cedo demais, mas seus sonhos não cabiam no casamento. No espetáculo, o grupo dá luz a momentos da infância e ao empoderamento da personagem enquanto mulher autônoma. O Homem e Seu Boi ganhou inspiração na vida do Mestre Popular local, Geraldo Magela, que deixou Minas Gerais muito cedo e cresceu na cidade de Taboão da Serra, onde criou a Casa de Cultura Candearte, importante polo de culturas populares na periferia da cidade
As histórias são entremeadas por aparições de Pirajussara – uma alusão ao rio que corta a divisa entre Campo Limpo e Taboão da Serra. “É uma personagem que representa a natureza, é um tipo de entidade cuidadora e comentadora dessas histórias. É testemunha de tudo e de todos, das pessoas, dos fatos, dialoga com encantamento, a questão do território indígena, ancestralidade”, enfatiza a atriz Dêssa Souza. Outra figura importante é Rua de Feira, que simboliza o próprio bairro, a própria rua, o movimento de pessoas, os barulhos dos carros misturados com os cantos dos pássaros que embalam o Campo Limpo.
Passo a Passo
Em 2017, o Bando Trapos foi contemplado com a segunda edição do Fomento à Periferia para a cidade de São Paulo, e ao longo deste projeto, realizou um ciclo de encontros intitulado Bando Trapos recebe no Caldos e Causos. Durante 10 meses, foram realizados encontros mensais, em que recebiam um coletivo parceiro que se apresentava, e em seguida acontecia um bate-papo.
Os encontros foram ainda um ponto de coletas de histórias vividas por moradores do bairro, de modo que em um mês ouviam as histórias e no mês seguinte, apresentavam uma cena inspirada nas histórias ouvidas. Foi-se criando um ciclo de escuta e transformação destas histórias em cenas, que quando prontas, eram assistidas pelo próprio público que os narrou.
No início de 2019, a partir de cinco cenas produzidas nesse processo de troca direta com o público, foi encenado o experimento cênico Vozes do Campo Limpo que circulou pelo bairro em locais próximos às moradias das pessoas que narraram suas histórias.
Com o olhar do diretor Cleydson Catarina, o grupo preparou um processo de continuidade dessa criação, desta forma, o experimento deu nome ao projeto realizado com o apoio da 4ª Edição do Fomento à Cultura da Periferia, proporcionando um maior aprofundamento da dramaturgia, sob a orientação de Rudinei Borges. Devido a pandemia de Covid-19, a cia apresentou uma série em 3 episódios em agosto de 2021. Neste momento contou com assistência de produção e direção de arte de Eduarda Alves e Simone Carvalho. O trabalho foi um caminho importante para a finalização do que seria uma peça que chega aos palcos atualmente.
Sobre o Grupo
Bando Trapos conta com sede no Campo Limpo – Zona Sul da Cidade de São Paulo. Seus trabalhos possuem forte influência de elementos da cultura popular vivenciadas no bairro e caminha em direção à uma pesquisa imersa pelo território, bebendo das inúmeras formas e linguagens, e absorvendo as suas histórias. Na medida que se nutre desse território, participa de sua construção poética.
O grupo nasceu no ano de 2014 e atualmente possui repertório com os seguintes espetáculos: Mephisto Injustiçado (2013); Foi o que ficou… do Bagaço (2015), O Pequeno Circo de Trapos (2017), As Desaventuras de Uma Sopa de Pedra (2017), experimento cênico Vozes do Campo Limpo (2019) e Pirajussara Vozes à Margem (2021).
Serviço:
Espetáculo Pirajussara: Vozes à margem
Classificação: Livre. Duração: 80 minutos. Grátis. Ingressos gratuitos nos locais de apresentação (sujeito a lotação).
Espaço Cultural CITA
Dia 24 de novembro, sexta-feira, às 20h
Rua Aroldo de Azevedo, 20 – Jardim Bom Refúgio, São Paulo
Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino
Dia 25 de novembro, sábado, às 20h
Rua Carandazinho, 50 (esquina com a Rua Catarina Guimarães) – Jd Olinda, São Paulo/SP
FICHA TÉCNICA:
Elenco: Daniwel Trevo, Dêssa Souza, Patricia Ashanti, Stefany Veloso, Welton Silva. Direção: Cleydson Catarina. Assistente De Produção: Patricia Ashanti. Direção Musical: Augusto Iúna. Dramaturgia: Bando Trapos. Músicos Convidados: Marcelo Lima e Yuri Carvalho. Músicas: Cleydson Catarina, Daniel Trevo / Dêssa Souza / Stefany Veloso / Augusto Iúna / Geraldo Magela. Arranjos: Daniwel Trevo, Augusto Iuna, Marcelo Lima e Yuri Carvalho. Orientação De Voz e Corpo: Juliana Amaral. Iluminação: Felipe Tchaça. Operação De Luz: Felipe Tchaça. Fotografia: Will Cavagnolli. Figurinos: Azul Marinha. Cenário E Adereços: Deco Morais. Produção Geral: Bando Trapos. Coordenação De Produção: Joka Andrade. Produção Executiva: Maísa Castro. Assessoria De Produção: Bianca Pereira. Comunicação: Bora Lá Agência de Comunicação e Marketing Popular, com Ju Dias responsável geral, Camila Ribeiro responsável pela identidade visual e Vênuz Capel @venuzcomz_ responsável pela social media. Assessoria De Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes. Costureira: Maria Margarida Duarte Britto. Agradecimentos: Daisy Von Waldeck, Eduarda Alves, Gabriel Alves, Geraldo Magela Boaventura, Elisabeth Carvalho, Ione Santos, Rudiney Borges, Simone Carvalho, Simone Gonçalves, Espaço Cultural CITA.