Choque Cultural leva para SP-Arte Rotas Brasileiras instalação de Alê Jordão e Ricardo Cardim sobre natureza e espaço urbano
Artista e ativista ambiental criaram a obra “Terra e Luz”, que tem como inspiração uma foto do Rio Pinheiros há 120 anos, quando a paisagem ainda lembrava uma visão do Pantanal
A Choque Cultural apresentará na segunda edição da SP-Arte Rotas Brasileiras, de 30 de agosto e 3 de setembro, a instalação Terra e Luz, criada pelo artista Alê Jordão, e o botânico, paisagista e ativista ambiental Ricardo Cardim. A parceria artística surgiu a partir do convite de Baixo Ribeiro, curador e fundador da galeria, que identificou a possibilidade de um diálogo interessante entre duas trajetórias que, por caminhos diversos, estão interessadas na sustentabilidade e na intersecção entre a natureza e ambiente construídos.
Alê Jordão se destaca pela arte urbana, enquanto Ricardo Cardim pelo paisagismo regenerativo. Ao abordar as cidades pós produzidas, Jordão critica o desenvolvimento urbano e o consumo desenfreados. Suas obras são produzidas a partir de materiais que foram descartados e reciclados, como os neons e peças de automóveis abandonados. Em outra frente, Cardim clama por uma reurbanização paisagística, por meio do paisagismo sustentável. “Herdamos a natureza mais rica do planeta e esse patrimônio foi desconsiderado pela civilização, transformando paisagens que levaram centenas de milhares de anos para se formar” afirma o criador da Floresta de Bolso® que chega a materializar florestas em caçambas na busca de reconstruir um equilíbrio térmico, energético, aquífero em espaços limitados.
Assim, a proposta de Baixo Ribeiro deixou Jordão encantado com a possibilidade de juntar as forças da luz e da terra nessa instalação mostrando os diálogos possíveis entre a sua atuação e a do botânico. Participar da criação do projeto da Choque Cultural para Rotas Brasileiras também trouxe uma forte motivação para Cardim, que considera a arte, com sua liberdade e seu poder de difusão característicos, uma ferramenta poderosa para disseminar conhecimento.
A instalação da dupla de criadores tem como inspiração uma foto proposta por Cardim de um trecho do Rio Pinheiros há 120 anos, quando a paisagem ainda lembrava uma visão do Pantanal. A ideia é justamente mostrar como o rio foi invadido e domado pela cidade, seu curso corrigido e imensas quantidades de areia branca retiradas para a construção da cidade.
Traz também elementos de uma escavação feita no quintal da casa do botânico no Alto de Pinheiros, situada onde originalmente era a margem do rio. Nessa arqueologia urbana para entender a geologia do terreno, o Cardim encontrou vestígios da turfa preta original e as camadas posteriores que foram sendo adicionadas como aterro. O material descoberto é composto por lixo da construção original do imóvel e embalagens antigas de plástico que permaneceram intactas, uma evidência da indestrutibilidade dos objetos que polui rios e mares envenenando animais e seres humanos.
O elemento luz da instalação artística será materializado pelo neon e pela tinta reflexiva, que já são peculiares de Alê, e ainda se propõem a realçar os elementos urbanos na cidade pós-produzida. O artista também traz para a obra trabalhos icônicos, como o automóvel que é a marca de nossa civilização compensado num bloco de sete toneladas, o poste de luz, a sinalização para pedestres e os alertas de trânsito que indicam caminhos a seguir ou paradas para refletir. Entre as sinalizações de tráfego, está uma que não leva a ponto algum, indicando o caminho que estamos tomando com a ocupação desenfreada e a falta de interação entre os seres humanos. Sintomaticamente uma das placas apela para o fim do Chat no celular, convidando o público para trocar ideias, interagir, conversar.
Com pintura a óleo em tela, a obra Terra e Luz, de Cardim, retrata a biodiversidade brasileira a partir de registros de flores, frutas e plantas que existiram anteriormente. Cardim diz que escolheu esse suporte por acreditar que o óleo é perene, persiste, e o resultado pode ser lido por qualquer pessoa, independentemente de sua familiaridade com linguagens artísticas.
A mesma pintura, reproduzida em lambe-lambes, cobrirá todo o fundo do estande. A proposta é chamar atenção para a exuberância nativa que foi perdida em um processo de genocídio vegetal.
As intervenções dos artistas convocados por Baixo Ribeiro extrapolam o estande da galeria Choque Cultural na SP-Arte Rotas Brasileiras. Na área externa da Arca, local que recebe a feira, haverá, no jardim que coincidentemente foi projetado por Cardim quando da criação da Arca, a sinalização de capivara, instalação de Alê Jordão que emitirá o som característico do animal.
Sobre Alê Jordão
O artista Alê Jordão nasceu em 1973, na capital paulista. Estudou artes visuais na FAAP na segunda metade dos anos nos anos 90, com Sandra Cinto, Dora Longo Bahia, Paulo Pasta e Nelson Leirner – mestre e principal referência para o artista. Também estudou design de mobiliário na Domus de Milão, escola pioneira na experiência da fusão entre o design, a arquitetura e a arte. Seu trabalho resulta da exploração do campo entre arte e design, entre o objeto escultórico e o funcional. Jordão inicia sua vida artística profissional em 2001 e através de pesquisa conceitual, de processos e materiais vem desenvolvendo um trabalho interdisciplinar que discute, principalmente, as relações entre espaço, luz e movimento. Em 2003, Jordão iniciou uma série de obras escultóricas produzidas com a reciclagem de lataria de automóveis descartados. A partir de 2006, depois que foi instalada a Lei Cidade Limpa em São Paulo (banindo a publicidade urbana), Jordão iniciou um trabalho focado no neon, material que utiliza para criar esculturas e instalações de grande porte.
Sobre Ricardo Cardim
Paisagista e Botânico, é diretor da Cardim Arquitetura Paisagística, escritório especializado em grandes projetos e com atuação nacional. Mestre em Botânica pela Universidade de São Paulo, recebeu em 2021 o Prêmio Muriqui Pessoa Física, uma das principais premiações ambientais do país, cedido pelo RBMA – UNESCO. Criou a “Floresta de Bolso”, técnica para a restauração de florestas nativas no meio urbano e rural. Foi também curador de exposições no Museu da Casa Brasileira (MCB) e Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MuBE) em São Paulo, participando neste último como membro do Conselho de Meio Ambiente. Publicou em 2018 pela editora Olhares os livros “Remanescentes da Mata Atlântica: as grandes árvores da floresta original e seus vestígios”, finalista do Prêmio Jabuti na Categoria Ciências e em 2022 “Paisagismo Sustentável para o Brasil”. Em 2023 recebeu o prêmio de melhor paisagismo na Casa Cor São Paulo.
Sobre a Choque Cultural
A história da Choque é um conjunto de aventuras e experiências artísticas que transcendem o universo conhecido como “arte contemporânea”. A Choque foi além e incorporou novas linguagens que representam melhor o zeitgeist: street art, tatuagem, HQs, obras digitais, ecológicas etc. A Choque está sempre à frente, promove intercâmbios e encontros surpreendentes entre artistas consagrados x emergentes, experientes x principiantes, acadêmicos x autodidatas, de fora x da casa. A Choque apaga fronteiras, desconstrói a dicotomia periferia-centro, provoca o mercado e faz questão de incomodar o establishment.
Baixo Ribeiro, um dos fundadores da Choque Cultural, trabalhou com moda e teve contato com vários movimentos urbanos (punk, hip hop, graffiti, skate, etc.) que, à época, eclodiram pelos grandes centros no mundo. Um detalhe muito peculiar logo chamou sua atenção: a disposição, dessa garotada, para colecionar peças de vestuário, acessórios, pôsteres e demais objetos, mas não eram itens comuns. Eles precisavam carregar algo para além da sua utilidade: arte. Assim nascia a Choque.
SP–Arte Rotas Brasileiras 2023
30 agosto a 3 setembro
ARCA – Avenida Manuel Bandeira, 360, Vila Leopoldina – São Paulo
Abertura para convidados: Quarta, 30 de agosto, das 11h às 19h
Horários de funcionamento:
Quinta-feira, 31 de agosto, das 11h às 19h, para convidados; a partir das 14h para o público em geral
Sexta-feira, 1º de setembro, das 12h às 19h
Sábado, 2 de setembro, das 12h às 19h
Domingo, 3 de setembro, das 11h às 18h
Entrada: R$ 70 inteira e R$ 35 meia, ingressos são vendidos até 1 hora antes do fechamento