SÉRVULO ESMERALDO: LINHA E LUZ sintetiza a extensa produção do artista, também pioneiro na arte cinética, com trabalhos de diversas dimensões e em variados materiais. Potência gráfica, cromatismo intenso, objetos em movimento real ou virtual, tudo convida o público a perceber-se em meio a um diálogo de formas. As obras definem o talento e a inteligência do artista que prima pelo rigor em toda sua produção e nas diversas linguagens nas quais transita. A exposição traz desde pequenos trabalhos de Sérvulo, de sua história inicial, como gravador, como pesquisador da linha e das texturas, do plano e da bidimensionalidade, até a sua transposição para o espaço tridimensional. Graças ao Instituto Sérvulo Esmeraldo, sediado em Fortaleza, foi possível trazer a público obras que integram um patrimônio artístico de extraordinário valor.
Apresentar SÉRVULO ESMERALDO: LINHA E LUZ em São Paulo é um diferencial. Nos idos de 1950, logo após a Segunda Guerra, Sérvulo deixa o Ceará para estudar em São Paulo. O objetivo era entrar na FAU-USP para cursar a Faculdade de Arquitetura. “Sérvulo se transfere para São Paulo em 1951, com o objetivo de estudar arquitetura, acho que mais um pretexto para ir para São Paulo e alçar sua carreira de artista. Ao chegar em São Paulo, conclui o curso cientifico da época no Colégio Ipiranga, morando na Rua Piauí, e ingressa no curso preparatório de arquitetura da FAU- USP. Como conta um colega dele, o arquiteto João Rodolfo Stroeter, o Sérvulo passava as aulas desenhando, sempre com um caderninho no bolso e um cotoco de lápis. Natural que levasse bomba no vestibular”, lembra Dodora Guimarães Esmeraldo.
Funcionário da Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) que construía no Campo de Marte, conseguiu a proeza de solucionar um problema hidráulico completo e recebeu a oferta da cúpula para tornar-se empregado efetivo do escritório em Campinas, com casa, carro e um alto salário. O momento trouxe a decisão, como conta Dodora. ” A oportunidade foi muito importante para a vida futura do Sérvulo, porque ele se envolveu com problemas da engenharia, que mais tarde desenvolveria na arte cinética. Mas ele rejeitou o emprego e alegou que queria ser artista, levando o chefe às gargalhadas. Sérvulo chega a São Paulo em 1951, nos preparativos da primeira Bienal de São Paulo. Pelas mãos do Aldemir Martins, que foi um artista muito importante na introdução do Sérvulo no meio artístico paulistano, ele foi apresentado não somente aos gravadores como o Livio Abramo, Marcelo Grassmann, Mário Gruber, mas também aos escultor Bruno Giorgi, aos pintores como Hermelindo Fiaminghi, Walter Lewy, Alfredo Volpi, e também teve a oportunidade de conhecer Flávio de Carvalho que o convidou para a primeira exposição em São Paulo, no Clube dos Artistas em 1956. O Sérvulo contava que São Paulo foi a segunda terra dele no Brasil, porque foi o lugar que ele encontrou amigos que conservou até o final da vida. Detalhe: ele nunca transferiu o título de eleitor para o Ceará. Sempre se sentiu um cidadão de São Paulo”.
Em 1957, graças a uma bolsa de estudos, tomou o rumo da Europa. Foram 22 anos na França, tempo em que se consolida entre os mais importantes nomes da arte, com renome no pioneirismo da arte cinética e referência obrigatória na gravura e na escultura.
Sérvulo Esmeraldo nasceu na cidade do Crato, no Cariri cearense, região carregada de cultura e beleza em pleno Brasil profundo. Como a maioria dos artistas da sua geração, iniciou seus trabalhos a partir da observação da paisagem. De imediato, interessou-se pelo movimento, pela transformação dos fenômenos da natureza, pela dinâmica dos corpos e pela dialética do saber.
“Ainda criança, Sérvulo começou a produzir pequenas engenhocas que se apropriavam da corrente dos riachos abundantes na região. Nessa busca entre os fenômenos naturais e a intervenção humana, o artista aproxima arte e ciência, processo e criação, objetividade e liberdade criativa. A percepção de determinada equação visual descoberta pela observação da paisagem é imediatamente respondida pela ação transformadora do artista”, afirma Marcus de Lontra Costa, que divide a curadoria com Dodora Guimaraes Esmeraldo, que está à frente do Instituto Sérvulo Esmeraldo.
Ao longo de toda sua vida, Sérvulo morou em Fortaleza, em São Paulo, no Rio de Janeiro, e depois, por mais de duas décadas, em Paris. Em meados da década de 1970, o artista retorna à Fortaleza e suas obras incorporam a cor e a monumentalidade. Sérvulo, viajante, jamais deixou de ser o menino curioso do Crato. Por isso, suas obras se distanciam da austeridade construtiva e se afirmam como elementos carregados de beleza, inquietude e sedução.
“Diferentemente da tradição de austeridade do construtivismo modernista, Sérvulo Esmeraldo cria poesias com a sua ação geométrica. As suas esculturas se originam de profunda sensibilidade gráfica. Por isto elas são sempre desenhos nos espaços. Elas se articulam, se movimentam, elas são objetos cinéticos algumas vezes, elas são objetos da transparência, objetos da sedução e do encantamento. Sérvulo cria uma geometria feliz. Uma geometria poética e romântica”, diz Marcus de Lontra Costa. “Os seus trabalhos gráficos determinam as bases da práxis do artista. Ela garante a Sérvulo a régua e o compasso e, com esses instrumentos, o artista subverte o plano na busca da dinâmica do movimento. Tudo em Sérvulo é fluido, é devenir, é líquido“, complementa Lontra.
A escolha das obras expostas em SÉRVULO ESMERALDO: LINHA E LUZ, levou em conta as etapas e as interligações dos trabalhos do múltiplo artista e evidencia a coerência e a concisão da sua vasta obra. “Essa evolução tem uma lógica simples e muito clara: a gravura em madeira (1957) é “matriz” para as esculturas em acrílico (anos 1970) e que, por sua vez, geraram as litografias (1976), e assim por diante, como se obedecesse a um projeto de sequências e consequências em um fluir sem hiatos”, declara Dodora Guimarães Esmeraldo. “A alegria é também um dos elementos constituintes do acervo reunido nesta exposição. Exatamente por ser uma das marcas do Sérvulo Esmeraldo, que colocava o humor sempre à frente de tudo. Um mestre, inclusive, na arte de saber viver“, finaliza Dodora.
No Sábado, dia 02 de setembro, às 16 horas, os curadores conversam com o público sobre a exposição e a obra de Sérvulo, pilar da arte construtiva brasileira.
Ao realizar este projeto, o Centro Cultural Banco do Brasil reafirma o seu compromisso de ampliar a conexão do brasileiro com a cultura, proporcionando ao público a oportunidade de conhecer o trabalho de um dos maiores artistas do país, que contribuiu com a divulgação da arte nordestina e a renovação artística do seu Estado.