Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo debate memória e identidade

Com curadoria de Daniel Douek e Rita Palmeira, segunda edição do evento traz autores de Brasil, Alemanha, Estados Unidos, França, Inglaterra e Israel. De 30 de novembro a 3 de dezembro, 12 mesas vão reunir nomes como Betina Anton, Christian Dunker, Colombe Schneck, David Baddiel, Iddo Gefen, Lena Gorelik, Lewis Gordon, Bianca Santana e Michel Laub

E se eu me esquecer de ti? A partir dessa pergunta-chave, 30 autores brasileiros e estrangeiros irão debater, a partir de perspectivas judaicas e não judaicas, sobre a importância da lembrança e o direito ao esquecimento, durante a segunda edição do Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo (FliMUJ), entre os dias 30 de novembro e 3 de dezembro, no Museu Judaico de São Paulo.

Com a curadoria de Daniel Douek, cientista social, mestre em Letras pelo programa de Estudos Judaicos e Árabes da USP e doutorando em Letras na área de Estudos Literários e Culturais na mesma instituição, e Rita Palmeira, crítica literária e editora, doutora em Literatura Brasileira pela USP e mestre em Teoria e História Literária pela Unicamp, a edição deste ano do FliMUJ contará com 12 meses, durante as quais serão discutidos os diversos usos que são feitos da noção de dever de memória.

“Se uma sociedade não existe sem seu passado, desde suas tradições até o enfrentamento das chagas resultantes de projetos desumanos – a escravização, o extermínio ou o colonialismo de forma mais ampla –, o indivíduo submetido a eventos traumáticos deve poder esquecer”, teorizam Daniel Douek e Rita Palmeira.

“Quem tem o privilégio de esquecer ou o dever de lembrar? As vítimas da violência ou os algozes? Pensada sob a ótica das dores individuais, a memória pode ser uma condenação paralisante, que leva à melancolia. Se não estiver atrelado ao trabalho do luto, como sustenta a psicanálise, o lembrar-se constante é sinônimo de sofrimento”, completam os curadores.

Entre os convidados internacionais estão o escritor e humorista inglês David Baddiel, autor do livro Judeus não contam, o intelectual afro-judeu estadunidense Lewis Gordon, autor de Medo da consciência negra, a escritora russa naturalizada alemã Lena Gorelik, que publicou Wer wir sind (Quem somos nós), um romance autobiográfico que conta como uma mulher se encontra e como é vista na Alemanha de hoje. A lista de convidados estrangeiros é completada com a autora francesa Colombe Schneck e o escritor israelense Iddo Gefen, que coletou sonhos de israelenses e palestinos que vivem próximos às fronteiras entre Israel, Gaza e Cisjordânia.

Dos escritores brasileiros presentes no evento estão nomes como Bianca Santana, biógrafa de Sueli Carneiro e que foi uma das curadoras da primeira edição do FliMUJe Betina Anton, autora de Baviera Tropical: A história de Josef Mengele, o médico nazista mais procurado do mundo, que viveu quase vinte anos no Brasil sem nunca ser pego. A lista conta ainda com Assucena, Bernardo Kucinski, Christian Dunker, Cida Bento, Cintia Moscovich, Clarice Niskier, Flavia Castro, Fortuna, Jacques Fux, Márcia Mura, Marcos Guterman, Michel Gherman, Michel Laub, Prisca Agustoni.

Confira abaixo a programação completa
Mesa 1 | 30.11, quinta-feira, 19h
Quem se lembra dos judeus?
Com David Baddiel
mediação de Giselle Beiguelman
Por que os judeus são constantemente excluídos das discussões sobre discriminação? Por que não figuram entre as minorias políticas? O comediante e escritor britânico sustenta em seu livro Judeus não contam, recém-lançado no Brasil, que essa ausência revela que, ao contrário de outros preconceitos, o antissemitismo é ainda hoje admitido entre progressistas.

Mesa 2 | 01.12, sexta-feira, 16h
Judeu é branco?
Com Cida Bento e Michel Gherman
mediação de Thais Bilenky
Em um país racista como o Brasil, o lugar do judeu é ambivalente. Se, por um lado, quem tem a pele clara beneficia-se de inúmeros privilégios relativos às perspectivas de ascensão social e à própria possibilidade de manter-se vivo, por outro, a insistente presença do antissemitismo lembra que judeus não chegam a ser plenamente brancos. Nesse sentido, que alianças são possíveis entre negros e judeus na construção de uma sociedade verdadeiramente democrática? E quais os seus limites?

Mesa 3 | 01.12, sexta-feira, 18h
Bom, agora a gente pode começar?
Com Cíntia Moscovich e Jacques Fux
mediação de Rita Palmeira
Esta mesa reúne dois escritores que, em sua obra, exploram a memória familiar e identidade judaica. Em Por que sou gorda, mamãe?, de Moscovich, e em Antiterapias, de Fux, por exemplo, o ato de lembrar tem função de elaboração da identidade de quem narra. O nome da mesa alude à frase final do célebre romance do escritor norte-americano Philip Roth O complexo de Portnoy.

Mesa 4 | 01.12, sexta-feira, 20h
Meu outro retrato?
Com Gabriela Wiener
mediação de Micheline Alves
A memória familiar é capaz de condicionar quem nós somos? Em seu mais recente livro, a jornalista peruana Gabriela Wiener parte da história do tataravô judeu, de quem herdou o sobrenome, para investigar sua identidade. Costurada pela perda do pai, pelo exílio voluntário na capital do país que colonizou sua terra natal e pela assunção do desejo, a narrativa autobiográfica de Wiener explora a conflituosa construção de si e do outro, racismo, assimilação e decolonialidade – temas que nortearão a conversa nesta mesa.

Mesa 5 | 02.12, sábado, 11h
Você acha que alguém como você pode escrever sobre a Shoá?
Com Colombe Schneck e Michel Laub
mediação de Adriana Ferreira Silva
Como se pode narrar o horror não testemunhado? Como contar o extermínio gerações depois? A narração é uma forma de reparação? Para quem? Nesta mesa, dois escritores de nacionalidades, trajetórias e obras distintas debatem, a partir dessas questões, a dimensão ética da escrita. Esta mesa tem o apoio da Embaixada da França no Brasil.

Mesa 6 | 02.12, sábado, 14h
Quando foi que me descobri?
Com Bianca Santana, Clarice Niskier e Márcia Mura
mediação de Fernanda Diamant
“Tenho trinta anos, mas sou negra há dez”, escreve Bianca Santana. Ao narrar sua própria história, a autora de Quando me descobri negra deu visibilidade ao fenômeno de autorreconhecimento, compartilhado por pessoas das mais diversas origens: negras, indígenas, judias. A mesa abordará os processos de descoberta identitária como posicionamento em favor da legitimidade de ser o que se é.

Mesa 7 | 02.12, sábado, 16h
A Baviera é aqui?
Com Betina Anton e Marcos Guterman
mediação de José Orenstein
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, muitos oficiais nazistas fugiram da Alemanha e encontraram abrigo em países democráticos, onde puderam viver impunemente. A presença de oficiais de Hitler no Brasil, como a do médico Josef Mengele, tem sido cada vez mais estudada e novas descobertas vêm à tona. A mesa abordará algumas delas, refletindo também acerca da construção da memória sobre o nazismo no país.

Mesa 8 | 02.12, sábado, 18h
Pode alguém escapar sozinho?
Com Lewis R. Gordon
mediação de Mylene Mizrahi
Autor de Medo da consciência negra, o filósofo afro-judeu Lewis R. Gordon discutirá o antirracismo em suas articulações com outras questões de identidade e pertencimento, tais como gênero, classe social, nacionalidade, ideologia, política e religião. Esta mesa integra a série Judeidade e Negritude, e tem o apoio da Casa Sueli Carneiro e do Instituto Brasil-Israel.

Mesa 9 | 03.12, domingo, 11h
Quem é que pode deslembrar?
Com Bernardo Kucinski e Flavia Castro
mediação de Paulo Werneck
Sob a ditadura militar, há 44 anos, era promulgada a Lei da Anistia, que, ao mesmo tempo que assegurava o perdão aos opositores do regime autoritário, garantia que as ações dos militares responsáveis por prisões ilegais, torturas e assassinatos fossem esquecidas. Mas quem poderia realmente se esquecer daqueles crimes: os algozes ou suas vítimas e seus familiares? A quem é dado o privilégio do esquecimento? Quem pode lembrar e quem pode des-lembrar – este o assunto desta mesa, que discute ainda modos de narrar a memória da ditadura.

Mesa 10 | 03.12, domingo, 14h
Para onde foi a minha casa?
Com Lena Gorelik e Prisca Agustoni
mediação de Sofia Mariutti
O deslocamento territorial – forçado ou voluntário – enseja uma nova identidade cultural. O que e como se narra na língua do outro e que agora é também sua? A relação entre a experiência do exílio e as escolhas narrativas e poéticas de duas escritoras é o tema desta mesa, que explora ainda a questão do pertencimento, da língua e da identidade. Esta mesa tem o apoio do Instituto Goethe.

Mesa 11 | 03.12, domingo, 16h
Ainda dá para sonhar?
Com Christian Dunker e Iddo Gefen
mediação de Ilana Feldman
O sonho nasce nas profundezas do sono, mas a realidade social insiste em invadir esse espaço íntimo – às vezes na forma de pesadelo. O que sonhavam os judeus no período do Terceiro Reich? O que sonham israelenses e palestinos nas fronteiras entre Cisjordânia, Gaza e Israel? Pesquisadores descobriram que sonhos não apenas expressam uma determinada realidade, como também a subvertem, criando realidades alternativas. A mesa partirá dos sonhos de judeus durante o nazismo e de israelenses e palestinos que vivem próximos às zonas de conflito para discutir as complexidades da subjetividade humana e seu potencial para a imaginação de um futuro diferente. Esta mesa tem o apoio do Instituto Brasil-Israel.

Mesa 12 | 03.12, domingo, 18h
Se eu cantar, vocês escutam?
Com Assucena e Fortuna
mediação de Marília Neustein
“Preciso que me escutem!”, exclama Medeia, interpretada por Assucena, na abertura da peça “Mata teu pai, ópera-balada”. Mas como se fazer ouvir, quando ninguém parece interessado? Existe alternativa ao grito que, se alcança ouvidos alheios, também esgota a si mesmo? Esta mesa, que reunirá as cantoras Assucena e Fortuna, debaterá ancestralidade, gênero, raça e imigração a partir das possibilidades imaginativas da arte e, especialmente, da música.

Sobre o FliMIJ
Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo foi idealizado a partir de perguntas e questionamentos – como parte significativa da cultura judaica – em uma tentativa de explorar as complexidades do cotidiano e mergulhar em questões contemporâneas brasileiras.

A primeira edição FliMUJ ocorreu em outubro de 2022, e contou com a curadoria da dupla Fernanda Diamant, jornalista e editora, e Bianca Santana, jornalista, cientista social e pesquisadora. O evento reuniu autores como Sueli Carneiro, Allan da Rosa, Betty Fuks, Nilton Bonder e a israelense Ayelet Gundar-Goshen.

Sobre o Museu Judaico de São Paulo (MUJ)
Museu Judaico de São Paulo é fruto de uma mobilização da sociedade civil. Além de quatro andares expositivos, os visitantes também têm acesso a uma biblioteca com mais de mil livros para consulta e a um café que serve comidas judaicas. Para os projetos de 2023, o MUJ conta com o Banco Alfa e Itaú como patrocinadores e a CSN, Leal Equipamentos de Proteção, Banco Daycoval, Porto Seguro, Deutsche Bank, Cescon Barrieu, Drogasil, BMA Advogados, Credit Suisse e Verde Asset Management como apoiadores.

Serviço:
FliMUJ 2023 – Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo
De 30 de novembro a 3 de dezembro (quinta-feira a domingo)
Local: Museu Judaico de São Paulo
Endereço: Rua Martinho Prado, 128 – São Paulo, SP
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida

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