Artista multimídia, fundador do Cortejo Afro e consagrado pelas estampas que colorem os blocos-afro de Salvador, Alberto Pitta (Salvador, 1961) expõe pela primeira vez em São Paulo um conjunto expressivo de 24 pinturas que compõem a mostra eternidade soterrada. Com curadoria assinada pelo historiador da arte Renato Menezes, a mostra entra em cartaz no dia 07 de maio, na Carmo Johnson Projects, no Pacaembu.
Criando e estampando tecidos por meio da serigrafia há mais de 30 anos, Pitta apresenta agora esse conjunto de telas realizadas durante a pandemia, obras que ressignificam os símbolos frequentes em seus panos: o tema da origem do mundo e dos homens, das pinturas rupestres dos homens das cavernas, que se encontram e se confundem a todo instante com a cosmovisão yorubá. Juntos, esses símbolos buscam situar a África como berço da humanidade. Não por acaso, nota-se em suas obras a presença constante de formas e camadas de cor que evocam as pátinas e erosões provocadas pelo tempo, assim como do branco sobre branco, que evoca Oxalá, orixá que criou o mundo e os homens.
O título da exposição é inspirado em um verso do poeta baiano Waly Salomão, que foi amigo de Pitta. Segundo Menezes, “o título remete, por um lado, aos fósseis, resquícios do passado cristalizados no presente, que desafiam a finitude da vida e enfatizam a transformação da matéria. Por outro lado, o ele remete também ao isolamento, ao recolhimento e ao ambiente da casa, tornada caverna nos tempos de reclusão pandêmica”.
É também em uma casa onde essas pinturas estão reunidas: a residência Cunha Lima, sede da Carmo Johnson Projects, foi projetada por Joaquim Guedes. Este arquiteto, aliás, foi amigo de Lina Bo Bardi, que concebeu (em parceria com Marcelo Suzuki) o desenho do terreiro de Mãe Santinha de Oyá, mãe de Pitta e importante ialorixá de Salvador. A montagem da exposição permite ao espectador observar, através das transparências e espaços vazados que estruturam a casa, como os trabalhos de Pitta narram histórias que dão continuidade àquelas iniciadas nas suas famosas estampas.
Durante a exposição, em momento ainda a ser definido, ocorrerá o lançamento em São Paulo do livro “Histórias Contadas em Tecidos: O Carnaval Negro Baiano”, de autoria de Alberto Pitta. A obra debruça-se sobre a trajetória de Pitta desenvolvendo trabalhos de pesquisas e criações artísticas, como um dos pioneiros na criação do que hoje se conhece por estampas afro baianas, se utilizando de símbolos, ferramentas, indumentárias e adereços dos orixás como fonte de inspiração.
Sobre o artista:
Alberto Pitta nasceu em 1961, em Salvador, cidade onde vive e trabalha. Foi observando a atividade de sua mãe, a yalorixá Mãe Santinha de Oyá, que viu despertar seu interesse pelos panos. Há mais de 30 anos ele se dedica à pesquisa e criação de estampas, figurinos, adereços e alegorias que caracterizam a visualidade dos blocos afro do carnaval de Salvador. Suas estampas já coloriram os Filhos de Gandi, o Ilê Ayê e o Olodum, em cuja diretoria artística permaneceu por 15 anos. Há 23 anos, Pitta criou o Cortejo Afro, bloco em que introduziu o branco sobre branco, uma das marcas mais importantes de seu estilo. Destaca-se também sua atuação junto ao Instituto Oyá, que surgiu do desejo de sua mãe em contribuir para o desenvolvimento humano, intelectual e artístico de crianças e jovens do bairro de Pirajá, onde se situa o Ilê Axé Oyá e o seu próprio ateliê. Em seu currículo consta também participação em diversas exposições em torno do mundo, em países como Alemanha, Angola, Estados Unidos, França e Inglaterra.